Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade de Sydney, na Austrália, concluiu que as pessoas que nasceram na década de 1990 têm uma saúde mental mais deteriorada do que as gerações anteriores.
De acordo com Richard Morris, principal autor do estudo, já se suspeita há muito tempo que as pessoas agora na faixa dos 30 anos são mais propensas a ter doenças mentais, em comparação com aquelas com 50 anos ou mais.
A equipa deste novo estudo – que garante ser o primeiro a demonstrar a diferença na saúde mental entre diferentes coortes de idades – teve em conta várias investigações relacionadas com saúde mental, que incluíram dados de mais de 27500 adultos entre os 24 e os 83 anos.
Com o objetivo de perceber como é que o estado da saúde mental se tinha alterado com o passar do tempo, em cada década (desde 1940 até aos anos 90), a equipa acompanhou os participantes entre 2001 e 2020, analisando respostas a inquéritos e comparando, depois, a saúde mental entre os voluntários, quando tinham a mesma idade.
Os resultados do estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revelaram que, além de os jovens nascidos durante os anos 90 serem aqueles com mais problemas relativos a saúde mental, foram também aqueles que demonstraram menos sinais de melhorias ao longo do período do estudo, ao contrário do que foi demonstrado nas gerações mais antigas.
“A saúde mental das gerações mais jovens, de pessoas nascidas na década de 1990, e, em certa medida, na década de 1980, é pior em comparação com as gerações mais velhas”, afirma Morris, acrescentando que os mais jovens “não estão a mostrar a recuperação” que normalmente se vê nas gerações mais antigas.
Porque é que as pessoas nascidas nos anos 90 têm pior saúde mental?
De acordo com a equipa, as grandes culpadas são as redes sociais, já que são responsáveis pela sensação de “não ser bom o suficiente”.
Peter Baldwin, investigador do Black Dog Institute, uma organização sem fins lucrativos de diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais como depressão e ansiedade, sediada em Sydney, e que não esteve envolvido no estudo, concorda que a culpa é em grande parte da tecnologia.
Além disso, refere que, apesar de as pessoas que nasceram nos anos 80 já terem crescido com acesso à internet, as que nasceram nos anos 90 fizeram-no lado a lado com as redes sociais, o que levou a uma “inundação” de comparações que têm grande impacto na saúde mental.
Numa entrevista à VISÃO, a psicóloga Andrea Moniz explicou que podemos comparar as redes sociais “a qualquer outro tipo de vício, como as drogas, o álcool, o café e os jogos a dinheiro”, acrescentando que “as redes sociais servem para tapar um vazio que a pessoa tem, é um escape, e por isso é por ali que as pessoas se sentem satisfeitas”.
A especialista referiu ainda que os jovens são quem mais sofre, sendo que começa a observar-se este tipo de situações aos 10 anos. “Vemos demasiados jovens presos nas redes sociais, e pode ir até aos jovens adultos”.
“O desenvolvimento, a puberdade e as circunstâncias sociais torna-os [aos jovens] mais vulneráveis. Esta faixa etária sofre mais porque está mais dependente da aprovação dos pares, da validação dos seus atributos, da afirmação das suas capacidades e da necessidade de reafirmar a identidade de pertença a um grupo”, disse, por seu lado, a psicóloga Ana Paula Trindade, referindo-se aos jovens entre os 16 e os 24 anos.
“O que os jovens cérebros realmente querem saber é “Eu pertenço?”, “Sou bom o suficiente?”. E se abrirem o Instagram e virem 100 modelos, atletas e empresários, estes serão parâmetros muito difíceis de comparar”, acrescenta ainda Baldwin.
Em outubro, foi anunciado que mais de 40 estados norte-americanos avançaram com um processo contra a gigante tecnológica Meta, em que se acusou o Facebook e o Instagram de prejudicare, “a saúde física e mental dos jovens”, de acordo com a agência AFP, que teve acesso à denúncia apresentada a um tribunal da Califórnia.
“A Meta explorou tecnologias poderosas e sem precedentes para atrair e, em última instância, prender jovens e adolescentes com o objetivo de obter lucros”, lê-se no documento.