A chegada da época festiva começa a significar cada vez mais gastos para os bolsos dos portugueses. Apesar dos saldos e de eventos como a Black Friday e a Cyber Monday, as festas de final do ano representam custos que incluem não só a comida (típica da época festiva) como as decorações de Natal e as prendas para a família e amigos.
É nesta altura também que muitas pessoas gastam mais do que pretendem e do que é considerado saudável. “Podemos racionalizá-lo [o vício] nesta altura, e penso que muitas pessoas se deixam levar. Mas se isto continuar e, mais uma vez, acabar por provocar problemas na sua vida, a nível financeiro ou de relacionamento, então é porque é realmente como um vício”, explica Ashish Bhatt, do Addiction Center, um guia informativo online para pessoas que lutam contra transtornos relacionados com a saúde mental, nos EUA.
Sintomas de vício
Num ciclo difícil de quebrar, muitas pessoas podem começar por sentir ansiedade em relação a todas as coisas que precisam de comprar e esse sentimento só desaparece quando essas compras já estão feitas.
No entanto, a sensação boa provocada pelo ato de “ir às compras” acaba por passar após poucos dias, levando a uma nova necessidade de gastar dinheiro. “As recompensas das compras são de muito curto prazo. E depois de fazermos as compras e de abrirmos as prendas, é frequente sentirmos uma desilusão. E depois che ao sentimento de culpa pelo dinheiro que se gastou a mais”, afirma Ann-Christine Duhaime, professora de neurocirurgia na Universidade de Medicina de Harvard, em Boston, EUA.
Já em 2010, um estudo publicado na revista científica American Journal of Drug and Alcohol Abuse, concluiu que a dependência pelas compras ou despesas compulsivas são frequentemente acompanhadas de outros problemas que afetam a saúde mental – como a ansiedade, perturbações alimentares e depressão.
“A compra compulsiva é uma compra crónica e repetitiva que se torna uma resposta primária a acontecimentos e sentimentos negativos e pode incluir sintomas equivalentes ao desejo e à abstinência”, pode ler-se no estudo.
Qual é, afinal, o motivo que leva à necessidade em comprar compulsivamente?
Segundo os especialistas, comprar algo para a si próprio ou para oferecer ativa o sistema de recompensa do cérebro, que faz com que a pessoa se sinta bem consigo. O ato de comprar desencadeia reações químicas no cérebro, ocorrendo a libertação de doses de dopamina, conhecido como o neurotransmissor do bem-estar e da felicidade.
“O sistema de recompensa foi criado em espécies mais antigas do que nós, há milhões de anos, para nos ensinar aquilo que precisávamos para sobreviver” refere Duhaime.
Além disso, especialmente durante a época natalícia, existem várias campanhas de marketing de diferentes empresas que agem de forma muito persuasiva. Através de conteúdos apelativos e bem elaboradas – frequentemente associados a sentimentos relacionados com a família ou o amor –, os anúncios provocam desejo de compra dos produtos.
A evolução das compras online é também uma forma de alimentar o consumismo de cada vez mais pessoas, já que evita deslocações e proporciona aos consumidores tudo o que desejam comprar apenas “através de um click”.
Através de funcionalidades como o “Express Check-out”, que memoriza os dados de pagamento de forma a otimizar o processo das compras realizadas, o tempo entre o momento em que se pensa em algo que se quer comprar e o momento em que já se pagou é cada vez menor (quanto menos tempo e barreiras houver entre o consumidor e o produto, menos tempo haverá para pensar se esse produto é realmente necessário).
Algumas soluções que podem ajudar até os mais consumistas a poupar durante a época festiva
Por um lado, é importante evitar os “gatilhos” que despertem a vontade para gastar. Sendo esta época uma altura que amplifica o desejo de fazer compras, evitar frequentar centros comerciais e lojas pode servir para reduzir a vontade compulsiva em comprar, caso seja uma pessoa com menor tendência a comprar online.
Para os consumidores que realizem compras online com mais frequência, é recomendado passar a fazê-las de forma presencial.
Por fim, ter um plano de compras sempre em mãos pode ajudar a evitar despesas indesejadas. Ir às compras já com uma lista das prendas que necessita de comprar, bem como das pessoas a quem se desejar presentear – e possivelmente o orçamento ideal para cada prenda – ajuda a evitar que sejam feitas compras desnecessárias.