Hoje a expressão “Black Friday” é sinónimo de grandes descontos, saldos e filas intermináveis para entrar nas lojas. Com origem nos EUA, a Black Friday – em português “sexta-feira negra” – realiza-se sempre no dia após o feriado norte-americano do Dia de Ação de Graças, tradicionalmente celebrado na última quinta-feira do mês de novembro. Marcada para a próxima sexta-feira, dia 24 de novembro, a data marca o início da época de compras natalícias. Existem algumas teorias que pretendem explicar a origem do termo, contudo, segundo alguns historiadores, a expressão terá sido utilizado pela primeira vez ainda no século XIX.
Origens do termo
Comumente, existe a ideia de que o termo “Black Friday” teve origem na escravatura dos Estados Unidos, daí o seu nome, Black – uma vez que os escravos seriam de origem africana – e Friday – por se celebrar na última sexta-feira de novembro, dia em que os escravos seriam supostamente vendidos com desconto para impulsionar a economia. Contudo, esta teoria não é a mais correta, uma vez que a expressão terá surgido alguns anos depois da abolição oficial da escravatura no país.
Originalmente, a expressão “Sexta-feira negra” não possuía qualquer relação com o mundo comercial. O termo tem origem no século XIX, no contexto da crise do ouro nos EUA, após a guerra da sucessão. Com a reconstrução da economia do país, dois especuladores – Jay Gould e James Fisk – compraram dívida pública, com o objetivo de a venderem a um preço mais elevado e gerarem lucros. No entanto, a manobra financeira não teve o final esperado, uma vez que levou a um crash da bolsa de Wall Street a 24 de setembro de 1869, dia que ficou conhecido como a “Sexta-feira negra” – ou “Black Friday”.
A nomenclatura só seria usada associada ao mundo comercial quase 100 anos mais tarde, durante a década de 1960, quando o termo começou a ser utilizado pelo departamento de trânsito da Polícia de Filadélfia para se referir à sexta-feira seguinte ao Dia de Ação de Graças. Isto porque, após o feriado, a cidade enchia-se de grandes multidões para assistirem ao jogo anual de futebol americano entre o exército e a marinha – que acontecia ao sábado – bem como começarem a fazer as suas compras de Natal. O conjunto de situações acabava por gerar o caos na cidade, com muito trânsito, acidentes, furtos e o colapso das lojas, que não estavam preparadas para o fluxo de consumidores. A partir daí, o termo passou a ser utilizado para descrever a atividade comercial desse dia e foi ganhando força a cada ano que passava.
A expressão também seria associada, pela positiva, ao dia do ano em que os comerciantes – pelo volume de vendas – conseguiam tirar as contas do “vermelho” – um termo que define a passagem das contas de negativas (e por isso a vermelho) para positivas (a preto).
Nas décadas seguintes, os comércios da cidade, percebendo que, no dia a seguir à Ação de Graças, a população começava a fazer as compras de Natal, começaram a colocar os seus produtos em promoção. O termo acabou por ficar definitivamente associado ao dia quando, em 1975, o jornal New York Times o terá usado para descrever alguns problemas de circulação na cidade de Filadélfia, originados pelos saldos. O conceito terá crescido a partir daí, popularizando-se nos anos 80 e 90, altura em que se generalizou nos EUA.
“Não houve um momento determinante que nos fizesse chamar à sexta-feira negra “sexta-feira negra”. É realmente a evolução da linguagem e da definição, as práticas de retalho e a resposta dos consumidores a isso”, referiu Barbara Kahn, especialista em marketing na Universidade da Pensilvânia em entrevista à NBC.
Já durante a década de 2000, a “Black Friday” começou a sua expansão um pouco por todo o mundo, tornando-se no dia do ano com maior volume de compras. Em Portugal, a tradição norte-americana tem se popularizado fortemente nos últimos anos, tornando-se numa data muito antecipada para a área comercial e pelos consumidores.
Um “dia” cada vez mais digital
Se há alguns anos a Black Friday era um dia marcado pelos grandes saldos que enchiam os centros comerciais de enormes filas, agora, o conceito tem-se alargado cada vez mais, com os saldos a começarem cada vez mais cedo. O alargamento dos descontos para dias como “Cyber Monday” e o recente “Black November” – que se refere aos preços mais baixos durante todo mês de novembro – alteraram os hábitos dos consumidores que, para além disso, passaram também a fazer mais compras através da internet. Com a rápida evolução do mercado online, a ideia original que definia a Black Friday – as multidões que se acumulavam às portas das lojas por descontos disponíveis apenas durante 24 horas – tornou-se um fenómeno, nos últimos anos, cada vez mais digital.
“A Black Friday costumava ser um gatilho para as pessoas irem à loja. Mas à medida que se transformou numa época promocional geral, a própria Black Friday perdeu a sua magia – o seu sentido de urgência”, explicou Kahn.