Um pouco mais de 12 quilómetros em duas horas e 20 minutos foi, de acordo com a aplicação Strava, quanto durou a caminhada de Jorge Francisco, no dia 5 de novembro, junto à praia de Ponta Negra, na cidade de Natal, estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. É neste país que Jorge Americano, de 77 anos, tem passado os últimos anos, enquanto a sua empresa, a Lapigema, está a ser julgada, em Lisboa, por fraude fiscal de quatro milhões de euros, um crime que não lhe tira o sono. Só que, por detrás da acusação do Ministério Público, se esconde uma quase interminável história de contrabando/tráfico de diamantes de Angola, o que levou o empresário, em 12 de julho de 2016, a estar diante do juiz Carlos Alexandre e do procurador Jorge Rosário Teixeira, no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). Uma atividade que descreveu, durante três horas de interrogatório, e que lhe rendeu milhões de euros, além da alcunha. Tantos foram os pormenores que, a meio da diligência, o próprio Carlos Alexandre não conteve um sorriso e um desabafo, porventura intuindo o desfecho do caso: “Isto é tanta história cruzada… Isto…”
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Por “isto”, a que se referia o magistrado judicial, entenda-se as dezenas de episódios, intervenientes, rotas, interesses e personagens próximas do anterior poder angolano, liderado por José Eduardo dos Santos, de que Jorge Francisco falou e que, ainda hoje, constam dos autos do Processo 359/14, que se encontra em julgamento no Juízo Central Criminal de Lisboa. Após vários anos de investigação, o Ministério Público e a Polícia Judiciária (PJ) não conseguiram recolher “informações que possam considerar-se suficientes para afirmar quem, como, quando, onde e em que circunstâncias introduziu diamantes em território nacional, oriundos fora do espaço europeu, sem declarar às autoridades tributárias”, como indica o despacho de arquivamento de dezembro de 2019, até porque quase todos os participantes no esquema, “cientes da investigação em que se pretendia apurar a prática de crime de contrabando”, referiram as magistradas do Ministério Público, foram aos autos garantir “não ter trazido de Angola diamantes que não tivessem declarado às autoridades aduaneiras”.