Um novo estudo científico, publicado na revista Science, revelou que o efeito das alterações climáticas na cobertura de gelo da região do Ártico pode ser a razão por detrás da morte de baleias cinzentas na costa do Oceano Pacífico. Em causa estão episódios de mortes de baleias em massa que remontam à década de 1990.
Um grupo de cientistas do Instituto de Marinha Animal da Universidade do Oregon, nos EUA, tem estudado o motivo por detrás da crescente onda de mortes de baleias cinzentas desde 2019. O estudo surgiu após um episódio, nesse mesmo ano, de morte em massa da espécie, com estes mamíferos a darem à costa em largas quantidades. Uma situação que alertou os especialistas e que já havia ocorrido de forma semelhante em 1999. A população de baleias cinzentas do pacífico tem sofrido uma queda acentuada, tendo registado uma quebra de 25% – de 27 mil baleias em 2016 para 14,50 mil em 2023.
“Trata-se de oscilações populacionais extremas que não esperávamos ver numa espécie grande e de vida longa como as baleias-cinzentas. Quando a disponibilidade das suas presas no Ártico é baixa e as baleias não conseguem chegar às suas áreas de alimentação devido ao gelo marinho, a população de baleias-cinzentas sofre choques rápidos e importantes”, explicou Joshua Stuart, Investigador do Instituto de Marinha Animal da Universidade do Oregon.
Já é conhecido que as alterações climáticas estão a afetar vários ecossistemas, sendo as regiões polares as que sofrem os seus efeitos rapidamente. Embora os cientistas acreditem que os impactos climáticos afetam mais diretamente as espécies pequenas, é menos claro os efeitos que podem vir a ter em espécies de largo porte e maior esperança de vida, uma vez que podem ter a capacidade de, a curto prazo, se adaptar a novas condições climáticas. Agora, a nova investigação mostrou que mesmo espécies de grande longevidade, como as baleias-cinzentas, são sensíveis aos impactos das alterações climáticas.
As baleias cinzentas do Pacífico Norte são das poucas populações de baleias de grande porte no mundo consideradas um sucesso de conservação, uma vez que a sua população registou um crescimento, poucos anos após a proibição de caça destes animais. Atualmente, a sua população de mais de quatorze mil elementos, migra cerca de dezanove mil quilómetros por ano entre a costa do Oceano Pacífico – das águas quentes da Baixa Califórnia, no México, durante o inverno – para as águas frias do Ártico, onde se alimenta no verão.
Esta é a espécie de baleias de grande porte sobre a qual mais estudos existem graças a investigadores do Centro Científico das Pescas da Administração Nacional do Oceano e Atmosfera, na Califórnia, que têm vindo a monitorizá-la desde 1960. O mais recente estudo, que combinou essas observações com dados ambientais sobre o Ártico, revelou que os dois eventos de mortalidade invulgar de 1999 e 2019 estão diretamente relacionados com os níveis de gelo marinho na região.
Os cientistas acreditam que a diminuição da cobertura de gelo causada pelas alterações climáticas pode ser prejudicial para as baleias-cinzentas ao afetar as espécies de crustáceos de que as baleias se alimentam. A diminuição do gelo faz baixar a quantidade de algas que aí crescem e sobre a qual os crustáceos se alimentam. Deste modo, a diminuição destes animais de pequeno porte afeta também a alimentação da população de baleias. “Com menos gelo, há menos algas, o que é pior para as presas das baleias-cinzentas. Todos estes fatores estão a convergir para reduzir a qualidade e a disponibilidade dos alimentos de que dependem”, contou Stuart
A menor quantidade de alimento leva à morte de baleias-cinzentas, provocando episódios preocupantes como o de 2019 e que continua a ter os seus efeitos. “O evento de mortalidade mais recente abrandou e há sinais de que as coisas estão a mudar, mas a população continuou a diminuir. Uma das razões pelas quais se pode estar a arrastar é a componente das alterações climáticas, que está a contribuir para uma tendência a longo prazo de diminuição da qualidade das presas”, referiu o investigador.