O espaço é o infinito e com ele surgem um conjunto de mistérios que estão a ser desvendados. A História do Universo em 100 Estrelas é um livro que ajuda a conhecer algumas das principais estrelas que compõem o céu que ambicionamos conhecer.
Florian Freistetter, autor do livro, é doutorado em Astronomia pela Universidade de Viena. Vencedor do IQ Award pelo seu trabalho como investigador, lançou em 2008 o blogue de astronomia Astrodicticum simplex, um dos blogues científicos mais lidos da Alemanha.
Esta semana apresentamos a Estrela polar, a estrela guia, mas uma entre tantas.
A História do Universo em 100 Estrelas
Estrela polar: uma entre tantas
A estrela polar não é a mais brilhante do firmamento, embora ouçamos continuamente isto. Na lista de estrelas mais luminosas, ocupa apenas o lugar 47. Deve a sua importância à sua posição. E à oscilação
da Terra.
A estrela polar, ou Alpha Ursae Minoris ou Polaris, encontra-se a 430 anos-luz na constelação da Ursa Menor, da qual é a estrela mais brilhante. Se se observar atentamente com um telescópio, vê-se que na verdade se trata de um sistema estelar triplo. A estrela que podemos distinguir também à primeira vista é uma gigante quente que brilha mais 2000 vezes do que o nosso Sol. É acompanhada por uma estrela anã e, à volta das duas, gira a terceira estrela do sistema.
No entanto, o que faz com que seja realmente especial é a posição que ocupa na esfera celeste. Se o eixo à volta da qual a nossa Terra gira ao longo de 24 horas se prolongar desde o extremo norte até ao céu, encontraremos com bastante precisão o ponto em que a estrela polar se situa. O polo norte celeste é o ponto à volta do qual giram aparentemente todas as estrelas durante uma noite. Como é óbvio, na verdade não se movem, pois permanecem onde estão, mas, como a Terra gira à volta do seu próprio eixo e nós com ela, temos a sensação de que todas as estrelas dão voltas em redor do polo celeste e, portanto, também da estrela polar, pois é a única do firmamento que parece não se mexer.
Assim, Polaris também é muito útil quando se quer saber onde é que fica o norte e não se tem uma bússola à mão. Este sentido prático também fica refletido nos diversos nomes que recebeu ao longo do tempo. Na Inglaterra anglo-saxónica, por exemplo, era conhecida como Scip-steorra, ou «barco estrela», já que os navegantes se guiavam por elaem alto-mar, o que também fez com que merecesse o nome Lodestar, ou seja, «estrela guia». A astronomia indiana chamava-lhe Dhruva, que significa «estrela estável» ou «imóvel».
Mas, embora a estrela polar nos pareça o protótipo da imobilidade e uma ajuda inestimável à navegação, não nos podemos fiar sempre dela, uma vez que o eixo de rotação da Terra não é estável. As forças gravitacionais da Lua e do Sol puxam-na e, com o tempo, descreve um pequeno círculo no firmamento. Nos nossos dias, aponta fortuitamente quase para o ponto exato em que se encontra a estrela polar. Pelo contrário, no século iv a.C. o geógrafo grego Píteas de Massília descrevia o polo norte celeste como estando livre de estrelas e tinha toda a razão: naquela altura, o eixo da Terra apontava para outra direção. Na astronomia da Antiga China a estrela à qual hoje chamamos Kochab era conhecida como 0010277308 北極二, que significa algo como «segunda estrela do polo norte» e, na verdade, há entre dois mil e três mil anos estava muito mais perto do polo norte celeste do que a estrela polar.
Antes, as pessoas até utilizavam a estrela Thuban (também chamada Alpha Draconis) como se fosse a estrela polar. De 3942 a 1793 a.C., esta estrela gigante da constelação do Dragão era a mais próxima do polo
celeste, até mais do que a estrela polar está hoje em dia.
E, se recuarmos ainda mais no tempo, estrelas como Tau Herculis ou Vega desempenhavam o papel da estrela polar, e com o tempo voltará a ser assim. Até ao século xxii, devido à oscilação do eixo terrestre, o polo norte celeste vai aproximar-se da estrela polar. Depois, estrelas como Gamma Cephei ou Alderamin irão desempenhando esse papel pouco a pouco, até que dentro de 12 mil anos será de novo a vez de Vega. O movimento de precessão do eixo da Terra compreende um período de cerca de 25 700 anos, e, portanto, esse será o tempo que a estrela polar demorará a recuperar o papel que hoje lhe atribuímos.
Ao contrário do fiável movimento da Terra, no entanto, não se pode prever se nessa altura ainda existirá alguém que observe o firmamento a partir dela.