Desde 2018 que o Instagram permite a partilha de certas publicações – as chamadas stories – só com um grupo restrito de pessoas. A opção de criar uma lista de “melhores amigos” para assim definir quem pode ver cada publicação, em vez de estarem acessíveis a todo e qualquer utilizador, foi justificada pela rede social com a necessidade de oferecer a possibilidade “de partilhar momentos mais pessoais” com um grupo reduzido de destinatários. A grande vantagem da ferramenta seria, portanto, a de aumentar a privacidade na hora de partilhar fotografias e vídeos nas stories (que apenas se mantêm online por 24 horas). No limite, imagens mais íntimas, por exemplo, poderiam chegar a uma só pessoa, como um namorado ou uma namorada.
Acontece que a ferramenta criada para oferecer privacidade, segundo noticia o jornal espanhol El País, está cada vez mais popular entre utilizadores interessados em disseminar conteúdos de cariz sexual pelo maior número de pessoas. Em vez de um grupo restrito, selecionam uma multidão de “melhores amigos” e partilham imagens mais ousadas em formato de fotografia ou vídeo. Há quem esteja a fazer negócio com isso.
O fenómeno está a ganhar tal dimensão no Instagram que muitos destes utilizadores já realizam inquéritos prévios a grupos alargados de destinatários para confirmar quem pretende receber tais conteúdos indiscretos. Isto porque a rede social proíbe a nudez, e qualquer denúncia de terceiros pode levar à suspensão de contas. Obter uma espécie de consentimento prévio é uma forma de minimizar a probabilidade de enviar conteúdos a “melhores amigos” aleatórios que, depois, apresentem queixa por se sentirem ofendidos. A revista norte-americana The Atlantic já relatou a existência de utilizadores de Instagram que cobram mensalidades pelo acesso a publicações de caráter íntimo, um tipo de atividade que se aproxima da promovida pela plataforma OnlyFans, que admite conteúdos pornográficos a troco de dinheiro.
O Instagram, ainda assim, monitoriza a exposição da nudez com soluções tecnológicas “proativas”, como referiu uma porta-voz da Meta, no ano passado, no blogue noticioso norte-americano Mashable. Na ocasião, a responsável adiantou que, em mais de 90% dos conteúdos que incluem nudez, a tecnologia ao serviço do Instagram deteta-os antes de serem denunciados pela comunidade de utilizadores, incluindo nas publicações realizadas através da ferramenta “melhores amigos”. Significa isto que o círculo verde que contorna as stories de acesso personalizado – o sinal que permite aos destinatários saberem que só têm acesso por constarem de uma lista de “melhores amigos” elaborada pelo autor – está longe de ser sinónimo de privacidade absoluta. Não só não cumpre o pressuposto inicial como, agora, é cada vez mais conotado com conteúdos que justificam uma bolinha vermelha no canto do ecrã.