Nos últimos tempos, multiplicam-se os terramotos, tsunamis, furacões, ciclones, tempestades, chuvas torrenciais, deslizamentos de terras, cheias, inundações, erupções de vulcões e incêndios florestais que têm devastado regiões inteiras do mundo, deixando cidades e populações em sobressalto, com as pessoas deslocadas de suas casas, improvisando o dia a dia até que a ira da Natureza abrande e permita recuperar alguma normalidade.
O crescente número de catástrofes naturais faz com que não sejam só as cidades que têm de ter planos estratégicos para enfrentarem o aumento da frequência de fenómenos extremos, derivados das alterações climáticas.
Cada família, cada casa, pode e deve ter também um plano de ação, de fuga, de resposta em caso de destruição. Como não se consegue prever o dia e a hora do próximo sismo com efeito destruidor, o melhor é saber o que fazer quando se sentir a terra a tremer. E, apesar de os restantes fenómenos meteorológicos extremos estarem mais monitorizados, as situações inesperadas ou de intensidade superior à prevista, seja de tempestades, tornados ou incêndios, apanham sempre muita gente desprevenida.
MAIS E MELHOR PROTEÇÃO ANTI-SÍSMICA
Não há dúvida de que Portugal é uma zona de risco sísmico, mas a falha que afeta o País situa-se no mar e isso é uma vantagem face à Turquia, por exemplo, em que todo o território está sobre a placa tectónica da Anatólia. Por cá, o perigo não está, literalmente, debaixo dos nossos pés.
Na terça-feira, 5, a terra tremeu quatro vezes em Portugal Continental, sem causar danos pessoais ou materiais. Dois sismos (magnitude 3,9 e 3,7 na escala de Richter) tiveram epicentro a sul do Algarve e foram sentidos nas zonas de Olhão e Albufeira; outro, com magnitude 2,6, ocorreu a oeste de Évora, tendo sido sentido no concelho de Montemor-o-Novo; o quarto, teve epicentro a cerca de 8 km a Este de Arouca (magnitude 2,5), sentido com intensidade máxima nos concelhos de Castro Daire e São Pedro do Sul (Viseu).
Mais importante do que querer saber a magnitude (a quantidade de energia libertada num terramoto medida na escala de Ritcher) ou a sua intensidade (responsável pelos danos quantificados na escala de Mercalli), é saber que quanto mais próximo da terra ocorre o abalo, mais destrutivo é.
No Quake – Centro do Terramoto de Lisboa aprendem-se estes e outros pormenores numa viagem no tempo, até 1 de novembro de 1755, data do terramoto que abalou toda a cidade de Lisboa, Litoral Sul e Algarve, através de simuladores, video-mapping e tecnologia 4D interativa. Sabendo mais sobre o sismo mais destrutivo da história da capital portuguesa, ganham-se noções de prevenção e de como estar preparado para outro eventual sismo. Porque o risco é real.
A convite do Quake, museu inaugurado em abril do ano passado, assistimos a um workshop dado por Francisco Rocha, socorrista e diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, sobre questões de proteção civil, em que se desfizeram mitos e consolidaram certezas.
Em Lisboa, 68% dos edifícios foram construídos antes da lei de proteção sísmica (de 1958 e revista em 1983) e apenas 16% das habitações em Portugal têm seguro com cobertura de risco sísmico. Isso significa que a maior parte dos prédios não tem a resistência anti-sísmica da Sala de Sessões e da Sala do Senado da Assembleia da República, por exemplo.
Fixemos que fugir durante um sismo aumenta o risco de acidente, por isso, o lema é “baixar, proteger e aguardar”, sem esquecer que as réplicas podem durar dias e até semanas, existindo uma elevada taxa de mortalidade durante esse período.
AJUDA FAMILIAR E COMUNITÁRIA
Ter um kit de emergência à porta de casa, com provisões essenciais, parece-lhe um exagero? Imagine que precisa sair de casa rapidamente, sem poder voltar alguns dias ou semanas, num cenário de catástrofe natural?
Francisco Rocha enumera os mínimos de que vamos precisar: água, alimentos não perecíveis (massas, conservas, granola, snacks secos, barras energéticas, bolachas), rádio a pilhas, lanterna, pilhas sobresselentes, kit de primeiros socorros, medicamentos básicos (anti-inflamatórios, analgésicos, antidiarreico), medicação habitual de cada pessoa, fraldas e papas para os bebés, apito, luz de emergência, pulseira de sobrevivência, fita adesiva preta (pode colar a sola do sapato, remendar um radiador furado ou umas calças rasgadas), fotocópias dos documentos de identificação de toda a família, crianças incluídas (poderá ser preciso comprovar que é o progenitor), fotocópias do documento do carro e certidões da casa (para comprovar que um bem lhe pertence).
Um kit de emergência mais incrementado já deverá conter ferramenta de corte (canivete, machado), dispositivo de combustão (isqueiro, pederneira, fósforos), cobertura (toldo, tenda, lona), recipiente metálico, de preferência, para ferver água, corda (descer, subir, puxar).
A taxa de sobrevivência vai depender também dos diversos graus de respostas. E o primeiro é o familiar. É preciso que pais, mães, filhos, avós, todos saibam que as paredes mais seguras da casa são as paredes-mestras, as que suportam as principais cargas de uma construção. Mas, como identificá-las? “São sempre as paredes que dão para o exterior, sendo o seu canto, a zona de esquina da parede, o local mais seguro.
Esqueçam as ombreiras ou vãos das portas, pois cada metro quadrado de laje de betão armado, que pode cair dos telhados e tetos, pode pesar duas toneladas”, alerta o socorrista.
Outro conselho importante: ir para debaixo de objetos robustos, como uma mesa ou uma cama, também não é boa ideia. “O ideal é ficar imóvel ao lado de grandes objetos, como frigorífico, móveis, secretárias, aparadores, estantes. Mantendo-se na lateral dos objetos há 95% de hipótese de sobrevivência, uma conclusão retirada de diversos simulacros”, sublinha Francisco Rocha.
3, UM NÚMERO IMPORTANTE
Seremos todos capazes de ir do quarto à porta de casa às escuras, sem bater em nenhum obstáculo? É uma forma de exercitar o que pode ter de ser feito num momento de acidente. É importante “conhecer a nossa casa de olhos fechados”.
Também pode fazer a diferença conhecer bem a envolvência dos trajetos feitos, diariamente, de casa para a escola e de casa para o trabalho. Ter atenção ao sentido do trânsito, às ruas sem saída, aos lugares que nesses caminhos são mais familiares para todas as pessoas do agregado e pensar em rotas de evacuação.
A resposta comunitária a uma catástrofe surge instintivamente entre os sobreviventes que, de modo voluntário e altruísta, se unem e começam a ajudar quem precisa. Nessa fase o kit de emergência inclui capacetes, máscaras, luvas, coletes e botas.
É escusado telefonar de imediato para o número europeu de emergência (112), polícia, bombeiros ou proteção civil. A resposta local de emergência será a que mais tempo demorará a chegar e a entrar em ação, pois “as antenas de comunicações em cima dos edifícios também irão colapsar”, lembra o socorrista.
“Nesta hora de aflição, a tecnologia 2G ainda é a melhor aliada, garantindo sempre rede. Nos telemóveis 4G é preciso tirar o cartão SIM para o telemóvel reconhecer a rede 2G, a que permite ligar para o número de emergência. Pode ser mais arcaico, mas é muito mais funcional”, exemplifica Francisco Rocha.
Em casos muito drásticos, a resposta de ajuda internacional só chegará daí a dois dias.
A população deve estar ciente de que poderá faltar eletricidade e água potável, poderá ser preciso estar sem tomar banho vários dias seguidos, dormir em tendas, nos aeroportos ou em pavilhões desportivos, fazer comida em fogueiras e passar algum frio.
Por fim, vale a pena saber que sobrevive-se três segundos sem vigilância, três minutos sem oxigénio, três horas sem regulação térmica, três dias sem água, três semanas sem alimentos e três meses sem contacto social.
Ainda lhe parece que ter um kit de emergência à porta de casa, com provisões essenciais, é um exagero?