“Grande escolha do Papa. Desta vez, estaremos em boas mãos com um missionário monfortino. Livrámo-nos de jogatanas políticas.” Muitos foram os católicos conservadores que, no WhatsApp, reencaminharam, de uns para os outros, tal mensagem, há uma semana, logo que o Vaticano anunciou a nomeação de Rui Valério para patriarca de Lisboa. A escolha do Papa veio, assim, descomprimir a alta tensão que se vivia não só na diocese de Lisboa mas também, e acima de tudo, no seio da própria Igreja Católica em Portugal. É que, há meses e a exemplo do que acontecera com os antecessores, a possibilidade de o cardeal-patriarca vir a ser substituído pelo seu bispo auxiliar, Américo Aguiar, responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude e visto como um rosto de um catolicismo desempoeirado, estava a conseguir congregar os movimentos mais tradicionalistas, contra as forças progressistas da instituição.
A ascensão de Valério, bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, é vista como um sinal de que, após meses de grande agitação causada pelos casos de abusos sexuais, haverá um regresso à normalidade – ou, aliás, aos considerados bons velhos tempos. Para alcançar este alegado “estado de pacificação”, os enviados do Vaticano em Portugal tiveram de fazer um caminho das pedras: recomendar um prémio de consolação para Aguiar, que chega a cardeal, mas tem de sair de cena; deixar cair os nomes de dois outros bispos, que tinham grandes hipóteses de chegar a patriarca, e ainda levar em conta a sugestão de Clemente.