Como forma de combater a imigração não-documentada, o Bibby Stockholm é o mais recente plano do Governo do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, para impedir as perigosas travessias do Canal da Mancha e alojar “homens adultos solteiros enquanto são processados os seus pedidos de asilo”.
De acordo com dados do Governo britânico, as chegadas de pequenas embarcações ao litoral britânico representaram cerca de 45% dos pedidos de asilo em 2022. Esta percentagem traduz-se em 45.775 pessoas que atravessaram o Canal da Mancha, o número mais elevado desde a primeira recolha dos dados em 2018. Números relativos a 2023, apontam para a chegada de 12.772 pessoas que fizeram a travessia em 2023.
Enquanto ministros afirmam que a medida de acolhimento dos migrantes na embarcação irá ajudar a reduzir os custos de 2.3 mil milhões de libras (2.6 mil milhões de euros) por ano devido ao alojamento em hotéis de requerentes de asilo enquanto os seus pedidos são analisados, a instituição de caridade para refugiados Care4Calais discorda.
Steve Smith, diretor executivo da Care4Calais, esclareceu num comunicado que nenhum dos requerentes de asilo apoiados pela sua instituição embarcou no Bibby Stockholm na segunda-feira. “Alojar qualquer ser humano numa ‘prisão quase flutuante’ como o Bibby Stockholm é desumano”, afirmou.
O Ministério do Interior Britânico adiantou esta terça-feira que os requerentes de asilo que se recusarem a entrar na embarcação vão ficar sem alojamento. “Se os requerentes de asilo não aceitarem uma oferta de alojamento adequado sem uma explicação razoável, não esperem que lhes seja oferecido um alojamento alternativo”, lê-se numa carta do Ministério do Interior, citada pela Sky News.
A embarcação, mede 93 metros, tem três andares, 222 quartos e está atracada no porto de Portland, em Dorset, no sul da Inglaterra. Com 222 quartos e com os seus primeiros ocupantes a bordo, quando o barco estiver cheio, serão colocadas até seis pessoas em cada um dos quartos, que se estendem por corredores estreitos. A embarcação conta também com serviço de cuidados médicos, refeições e segurança de 24 horas.
De acordo com cálculos feitos pelo jornal britânico The Independent, quando a embarcação estiver cheia com as 500 pessoas que o Governo tenciona albergar, cada requerente de asilo terá para si um espaço menor que um lugar de estacionamento.
O Sindicato dos Bombeiros (FBU) afirma que o barco é uma “potencial armadilha mortal”, descrevendo a política implementada como “cruel e imprudente” e alerta para as saídas estreitas e a possível sobrelotação.
O Governo britânico anunciou, no ano passado, a possibilidade de enviar alguns dos requerentes de asilo para Ruanda, na África Ocidental, mas a hipótese foi travada em junho devido a uma ação judicial, da qual o Governo está atualmente a recorrer para o Supremo Tribunal.
Os meios de comunicação britânicos noticiaram, este fim de semana, que o governo tinha em vista outros locais para enviar os requerentes de asilo caso os tribunais continuassem a bloquear o plano de Ruanda.
Entre os locais que foram considerados estava a Ilha da Ascensão, uma ilha vulcânica remota a 6 mil km do Reino Unido, ponderada pela primeira vez há três anos, mas que foi rejeitada por ser impraticável. Na segunda-feira, o governo britânico rejeitou novamente a possibilidade de retomar o plano. A ilha é considerada um dos locais mais inacessíveis do planeta, sendo o seu ponto de acesso mais próximo o Brasil. Conta atualmente com cerca de 800 habitantes, a maioria trabalhadores (e familiares) das bases aéreas britânica e americana que se encontram no território.
Existem agora mais de 130 mil pedidos de asilo ainda à espera de serem avaliados, a maioria dos quais há mais de seis meses, segundo os mais recentes números oficiais.