“Várias das preocupações de privacidade com o Threads estão relacionadas com o historial de práticas de privacidade da Meta”, disse Calli Schroeder, conselheira sénior e conselheira global de privacidade do Electronic Privacy Information Center (Epic), uma organização sem fins lucrativos de privacidade digital. “Não vi qualquer prova de que a Meta esteja a ser transparente sobre o que irá fazer com os dados pessoais sensíveis ou que esteja a estabelecer claramente a razão pela qual está a recolher esses dados, para além de ‘porque queremos’.”
Pouco depois do lançamento, na semana passada, o líder do Instagram, Adam Mosseri, lamentava que a Threads não esteja, por enquanto, disponível na UE, explicando que se a Meta tivesse de esperar pela aprovação de Bruxelas, o lançamento teria sido adiado por muitos meses.
O Threads rege-se pela mesma política de privacidade e pelo mesmo modelo de negócio de outras aplicações que integram o portefólio da gigante tecnológica Meta, por isso, já se sabe muito sobre a forma como a plataforma recolhe, armazena e partilha os dados dos utilizadores.
No que diz respeito aos dados recolhidos, tal como o Instagram e Facebook (também detidas pela Meta), o Threads pode e irá recolher uma grande quantidade de dados sobre os seus utilizadores, o que de acordo com a descrição do Threads na App Store, pode incluir dados sensíveis, como informações sobre a saúde e a condição física, informações financeiras, localização e histórico de navegação.
“As aplicações da Meta recebem todas as informações que os utilizadores introduzem”, disse o porta-voz da Meta, Emil Vazquez.
Outro tipo de informação que pode ser recolhida, de acordo com a política de privacidade do Threads, diz respeito às publicações com que os utilizadores interagem, quem seguem, o tempo e frequência de uso da aplicação.
Na política de privacidade do Threads também está explícito que a empresa também tem acesso à localização GPS, câmaras, fotografias, informações de IP, o tipo de dispositivo utilizado e sinais do dispositivo, incluindo “sinais Bluetooth, pontos de acesso Wi-Fi próximos, beacons e torres de telemóveis”.
“A empresa está a tentar recolher o máximo de dados possível e a tentar continuar na mesma direção que tem seguido desde o início, apesar de todos os escândalos, apesar da reação do público, apesar dos avisos dos reguladores, apesar das multas. Não está a reimaginar o seu modelo de negócio para o tornar um modelo de negócio mais respeitador dos utilizadores”, afirmou Carissa Veliz, professora associada do Instituto de Ética em Inteligência Artificial da Universidade de Oxford.
Uma das preocupações, segundo Veliz, é a sensibilidade dos dados que a empresa recolhe. “Pode incluir orientação sexual, raça e etnia, dados biométricos, filiação sindical, estado de gravidez, política, crenças religiosas. E todos estes dados podem ser potencialmente enviados a terceiros”.
Vazquez, o porta-voz da Meta, já veio a público garantir que “a empresa filtra internamente os dados sensíveis, incluindo informações sobre saúde, orientação sexual e opiniões religiosas, para que não sejam utilizados na publicidade”.