Martin Junior Kenny nasceu e cresceu no Zimbabué. Com apenas 20 anos, emigrou para o Reino Unido, carregando na bagagem o sonho de se tornar chefe de cozinha. Instalado na cidade portuária de Southampton, Martin passou os anos seguintes agarrado aos livros e aos tachos, não repousando até ingressar na carreira que desejava, após anos de estudo e de trabalho árduo. Pelo meio, apaixonou-se por Gabriela, e constituiu família; foi pai. Tudo corria como planeado, mas isso parecia não lhe chegar. Com 36 anos, anunciou ter passado por uma “experiência espiritual profunda”, que lhe alterou radicalmente a vida. Pela internet, começou a partilhar a sua visão “provocadora” e “desafiadora” do mundo. Passando a responder pelo nome de Água Akbal Pinheiro. Do antigo Martin já nada restava. Milhares de pessoas espalhadas pelo mundo passaram a escutar este autointitulado “filósofo espiritual, investigador esotérico e influenciador social”. Muitas, a segui-lo religiosamente. Com palavras simples e seguras, o número de fiéis foi aumentando – alguns começaram a falar de dar um passo em frente. Com o objetivo de fundar uma comunidade, que vivesse à luz destes ensinamentos, a família Pinheiro rumou a Portugal. Em moldes, para já, desconhecidos, o futebolista dinamarquês Pione Sisto adquiriu e cedeu o terreno onde seria fundado o Reino do Pineal. Ao apelo do guru, começaram por responder 44 pessoas, de oito países diferentes. Desconhece-se, hoje, o atual número de habitantes, mas sabe-se que há portugueses a viver no local. Água Akbal Pinheiro continua a pregar, em textos e vídeos publicados online.
A mensagem é um caldeirão de teorias da conspiração e posições contracorrente e antissistema. Parte do discurso peca pela falta de originalidade, com a pandemia e a vacinação a continuarem a servir de fio condutor para conceitos como o do “grande reset”, que, garante o líder, ficará “completo em 2033”, ano em que “vai emergir uma nova ordem mundial”. O rol de partilhas é infindável, quase diário. Já as conclusões são confusas, muitas vezes contraditórias. O medo do futuro e a oposição às “elites” fazem parte da narrativa populista. Segundo o raciocínio de Água Akbal Pinheiro, o Reino de Pineal é “o exemplo político, social e económico perfeito”, solução única para quem quer sobreviver ao “colapso” que se avizinha, permitindo, no futuro, que os seus habitantes se destaquem dos “incapazes”. “Infelizmente, a maior parte das pessoas continua com falta de conhecimento e quando a nova ordem se estabelecer, as suas heranças serão reclamadas por aqueles que são capazes (…) Nós, no Reino de Pineal, somos um pequeno punhado de pessoas capazes que quer quebrar o mofo e reescrever a história”, diz, num longo vídeo de propaganda a que a VISÃO assistiu.
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