Luís Felício, 48 anos, e Francisco Alvarenga, 40 anos, estiveram longe de faturar tanto como Jordan Belfort, o “Lobo de Wall Street”, interpretado no cinema por Leonardo DiCaprio. Mas, a certa altura das suas carreiras, tiveram a mesma ideia: criar um guião para manipular os alvos das burlas. Belfort impingia ações de baixo valor, mas com elevadas comissões para os intermediários. Os principais protagonistas do processo 670/20.3JGLSB convenceram as suas vítimas de que estavam a ser alvo de um ataque informático às respetivas contas bancárias, quando os atacantes eram os próprios, conseguindo com isto, durante dois anos, amealhar mais de um milhão de euros.
O documento (que pode ler na íntegra nestas páginas) foi descoberto pelos investigadores da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T), em abril de 2021, durante uma busca domiciliária a casa de Luís Felício, no âmbito da Operação Bitphish, e acabou por ser mais um elemento para o procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) Filipe Marta Costa avançar – além dos crimes de falsidade informática, burla qualificada, falsificação de documentos, acesso ilegítimo e branqueamento de capitais – também para uma acusação por associação criminosa, envolvendo uma centena de arguidos – desde os líderes do grupo, passando pelos recrutadores, até chegar às chamadas “mulas do dinheiro”, dezenas de pessoas que disponibilizaram a respetiva conta bancária para a circulação de dinheiro a troco de uma comissão e que, hoje, respondem por um crime de branqueamento de capitais.