Os nossos movimentos são controlados pela contração dos músculos. Normalmente, ao realizar as nossas rotinas diárias, os nossos corpos tendem a usar a menor quantidade possível de “unidades motoras” musculares e nervosas para realizar uma ação.
A explicação é dePaul Zehr, professor de neurociência da Universidade de Victoria, no Canadá, em entrevista à BBC. “Os músculos são normalmente ativados de uma maneira muito específica que é realmente eficiente”, analisa. “Para quê usar toda a sua massa muscular para levantar uma chávena de café?”
As estimativas tendem a variar, mas crê-se que a quantidade de massa muscular requisitada durante o exercício é cerca de 60 por cento. Mesmo os atletas de alta competição, que treinaram para obter mais rendimento, conseguem aproveitar apenas cerca de 80% da sua força teórica.
Mas se o objetivo é ter uma total utilização da força e do corpo, porque é que existe este limite? A resposta resume-se, essencialmente, à segurança. Se exercêssemos uma força os nossos músculos até ou além do seu máximo absoluto, poderíamos rasgar um tecido muscular, ligamentos, tendões ou até mesmo partir um osso.
“Os nossos cérebros estão sempre a tentar garantir que não danificamos algo”, explica Zehr. “Se realmente usasse toda a força possível ou toda a energia possível para combater a exaustão, acabaria por entrar numa situação em que poderia morrer”.
Assim, para que não exista a possibilidade de nos magoarmos, desenvolvemos sensações de dor e angústia durante períodos de grande esforço, que fazem com que se desista de tentar mover algo que julgamos ser muito pesado, como um carro, em circunstâncias normais.
Para provar esta tese, um grupo de investigadores da Universidade de Nebraska-Lincoln mostra que a força física pode vir tanto do exercício do sistema nervoso quanto do treino dos músculos. Num estudo, pediram a alguns participantes que levantassem pesos mais leves mas fizessem mais repetições e a outros que fizessem menos repetições mas com pesos mais elevados.
A conclusão é que, enquanto a massa muscular em ambos os grupos de participantes foi construída na mesma proporção, aqueles que treinaram com pesos mais pesados ficaram mais fortes. A equipa explica que isso se deve aos sinais elétricos enviados pelos neurónios, que diferem dependendo se um indivíduo está a fazer um treino com pesos de alta ou baixa carga.
Assim, as adaptações do cérebro, responsável por gerir os movimentos, podem ser responsáveis por diferentes ganhos de força, apesar da massa muscular semelhante.