À entrada de uma rua empedrada e irregular, no coração do bairro Felipe Camarão, o maior da zona oeste de Natal, no Brasil, uma frase inclinada, pintada a tinta branca num muro esburacado, anuncia que, por aquelas bandas, “vende-se peixe”. Percorrendo menos de 50 metros, encontra-se, à direita, uma casa com grades na porta e nas janelas, entalada pelos tijolos a descoberto dos projetos adiados dos vizinhos. No pequeno pátio de cimento, uma banca de mercado de aparência improvisada, feita de ferro enferrujado, permanece despida. E até o próprio vermelho do toldo de plástico que a cobre parcialmente parece prestes a extinguir-se, vencido pelo tempo. O cenário revela que o negócio há muito que já não passa por ali.
O dono daquela propriedade chama-se Edmilson Gomes. Aos 59 anos, o homem que cresceu a puxar fio nas águas do estado do Rio Grande do Norte dá mostras de ter abdicado das longas horas a bordo dos barcos de pesca, após ter regressado à região, depois de uma longa ausência, de quase dois anos (entre 2019 e 2021). O assunto é comentado em surdina, mas, nas ruas próximas, todos sabem que o amigo e vizinho esteve preso em Portugal, quando foi apanhado a capitanear uma embarcação que navegava pelo Atlântico, carregada com cerca de uma tonelada de cocaína. Surpreendentemente, Edmilson Gomes voltaria a cruzar-se com as gentes de Felipe Camarão, nos finais de 2021. Hoje, passados quase dois anos, o pescador vive tão livre e tranquilo quanto a pobreza do local permite.