Em 1934, quando tinha cinco anos, Hannah Pick-Goslar mudou-se para Amesterdão para conseguir fugir da Alemanha Nazi. O destino fez com que se tornasse grande amiga e vizinha de Anne Frank, criando momentos que preservou até agora, momento em que publica o livro “My Friend Anne Frank” , escrito em conjunto com Dina Kraft.
Nas páginas do livro de memórias, Pick-Goslar descreve os horrores que viveu durante o Holocausto e tudo o que partilhou com a sua melhor amiga. A Time teve acesso a uma parte do livro, onde são descritos aqueles que descreveu como “os últimos momentos de alegria”, a festa de 13 anos de Anne Frank.
A autora autora descreve que, num dia, quando as duas amigas se dirigiam para a escola juntas, Anne levou consigo um envelope com o nome da amiga: “”O que é isso?” perguntei, quando começámos a caminhar rapidamente em direção à escola. Ela sorriu e observou-me a abri-lo. Era um convite para a sua festa de 13 anos, no domingo, apenas dois dias após o dia do aniversário real, a 12 de junho”, conta Pick-Goslar, no livro.
“No convite, havia também um bilhete improvisado para o “cinema”, com o número do meu lugar. “O papá vai alugar um projetor de filmes para que possamos assistir a Rin Tin Tin !”. “Mal posso esperar para ir,” disse a Anne”, lê-se.
A sobrevivente descreve como Anne e a sua irmã Margot adoravam festas de aniversário e como, por isso, os seus pais gostavam de planear estes eventos.
“Toda a gente gosta de fazer anos, mas Anne era uma daquelas pessoas que realmente adorava. Toda a nossa turma de 30 meninos e meninas foi convidada para a festa. (…) Anne disse-me que Margot tinha convidado alguns amigos também. Claro, todos os convidados seriam judeus por causa das leis que proibiam não-judeus de frequentarem casas judaicas, e pensei em como era a primeira vez que os nossos amigos não-judeus da Escola Montessori ou da vizinhança não estariam numa das festas de aniversário de Anne”, relembra.
Hannah destaca ainda no livro os presentes que foram oferecidos a Anne no seu aniversário. “Livros e um novo par de sapatos, e o mais valioso de todos foi o caderno em xadrez vermelho e bege, com um lindo cadeado de metal que ela mostrara ao pai na Blankevoort, a nossa livraria local. Ela disse-me que iria usá-lo como um diário”.
No Domingo em que se realizou a festa, o ar estava quente e a sensação de felicidade era ainda maior, descreve a autora. “Olhei para Anne e, como sempre, admirei como ela parecia confiante e despreocupada. O seu rosto estava radiante e ela esvoaçava como uma borboleta entre os convidados. O seu cabelo parecia especialmente bonito. Anne passou muito tempo escovando-o todas as noites e tentou fazer caracóis (sem muito sucesso) usando alfinetes e rolinhos”, conta.
Todos estavam animados, como relata a autora, sem imaginarem que seria o último evento que todos teriam. “Foi muito divertido estar fora da sala de aula e conversar, beber limonada e brincarmos uns com os outros(…) Um dos últimos momentos felizes e despreocupados para nós, como crianças a entrar na adolescência. Duas semanas depois, Anne e a sua família desapareceriam. Eu pensava que eles tinham fugido para a Suíça, mas apenas se tinham escondido. Não voltaria a falar com ela até 1945, dentro do campo de concentração de Bergen-Belsen”.