“Esse cenário não está em cima da mesa”, garante José Sá Fernandes, o coordenador do grupo de projeto para a JMJ 2023 à VISÃO. “Não é uma hipótese que se coloque”, repete quando lhe perguntamos se esse é ou não um cenário que possa acontecer.
Já fonte oficial da Fundação JMJ diz apenas que “o Papa vem a Lisboa”. A VISÃO falou com várias pessoas que integram a organização da JMJ ou que estão próximas do Vaticano, na semana passada, depois das notícias de um agravamento do estado de saúde do Papa Francisco que obrigou o Sumo Pontífice a alguns dias de internamento – entretanto restabelecido e de volta ao Vaticano.
Fontes próximas do Vaticano explicaram à VISÃO que a organização da JMJ está a trabalhar para garantir que o Papa pode estar presente na Jornada num modelo de mobilidade reduzida, tal como acontece já hoje nas suas atividades diárias, em Itália. No entanto, garantem, não há qualquer plano alternativo para o caso de uma eventual ausência forçada do chefe máximo da Igreja Católica no encontro com os jovens em Lisboa, na primeira semana de agosto. A JMJ será para acontecer, “sobretudo depois de já ter sido adiada um ano. O evento é para avançar”, diz outra fonte da organização.
Depois de toda a celeuma que envolveu a construção de um palco orçado em €2,9 milhões – o custo total do evento ronda os €36,5 milhões – a grande questão era que impacto económico teria a ausência do Papa no encontro que se estima que vá trazer quase um milhão e meio de peregrinos a Portugal durante os quatro dias da visita do Papa ao País. Mas a verdade é que com ou sem Sumo Pontífice, o menor impacto deve ser mesmo nas contas.
Isto porque os peregrinos – ou pelo menos a grande maioria – compra um pacote que inclui alojamento, alimentação, transporte, seguro e um ‘kit do peregrino’ diretamente à Fundação JMJ 2023. Isto dá-lhes acesso a um conjunto de unidades hoteleiras e de restauração que negoceiam diretamente com a Fundação os preços que vão ser praticados, confirmou fonte oficial da AHRESP à VISÃO, e cujo valor lhes será pago pela própria Fundação.
Fundação essa que explica, aquando da aquisição de um dos pacotes disponíveis – uma semana, fim-de-semana, alojamento e transporte, apenas transporte e refeições… – que o valor do pacote comprado não é reembolsável. Excetuam-se os casos dos peregrinos que, precisando de visto para viajar para Portugal, não o vejam concedido pelas autoridades. E mesmo nesses casos, se a compra do pacote para participação foi feita em grupo, o reembolso também não é possível, a menos que todo o grupo cancele a sua participação.
Mesmo nos casos em que o reembolso pode ser pedido, ele nunca excederá 90% do valor pago. Que é como quem diz: à partida, há um retorno financeiro que está garantido, mesmo que para tristeza dos mais de 500 mil participantes já inscritos, o Papa não conseguisse voar até Lisboa, onde se encontrará com os jovens que vierem ao seu encontro.
Recorde-se que as entidades oficiais estimam um retorno financeiro na ordem dos €350 milhões para Portugal, com o acontecimento da JMJ. Isto prende-se não apenas com os dias de visita oficial, mas também com os visitantes que optarem por ficar mais dias no País, aproveitando a deslocação inicial.
A verdade é que, desde 1986, quando o primeiro encontro entre o Papa João Paulo II e os jovens deu o mote para aquilo que hoje é a JMJ, nunca um Sumo Pontífice esteve ausente de uma Jornada. A última a que João Paulo II presidiu, já visivelmente debilitado, aconteceu em Toronto, no Canadá, no verão de 2002 – o Papa morreria em abril de 2005. Nesse ano, Bento XVI presidiu à sua primeira JMJ na Alemanha, seu país natal.
O cenário da morte do Sumo Pontífice numa data próxima à JMJ seria o único que, atualmente, poderia efetivamente pôr em causa a presença do chefe da Igreja Católica em Lisboa, uma vez que as regras ditam que o Conclave, o encontro de Cardeais para escolher o novo Papa, tem de acontecer 15 a 20 dias após a morte [ou renúncia] do seu antecessor. O que significa que a eventualidade mais inusitada seria o Vaticano estar a preparar-se para aclamar um novo Papa nas datas da JMJ. Nessa remota possibilidade, aquilo que fontes próximas da organização da JMJ revelaram à VISÃO é que poderia optar-se pelo envio de um Cardeal próximo do Papa falecido a Lisboa. No entanto, esta é uma hipótese tão pouco considerada que não haverá, efetivamente, qualquer documento que preveja esta possibilidade.
Em pleno Tríduo Pascal, a Igreja de todo o mundo tem-se dedicado também a rezar pela saúde do Papa Francisco. E em Portugal, a expectativa de que o Papa regresse ao País em agosto é, na verdade, tida como uma certeza.