Natália Correia tinha de nascer numa tarde de marés vivas. Ainda faltavam uns dias para o equinócio do outono, mas o mar já se agigantava junto à Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, quando a escritora se anunciou ao mundo, de boca bem aberta, a 13 de setembro de 1923.
Chorou alto, fazendo-se ouvir em toda a casa solarenga que fora atribuída à mãe quando se tornara professora de liceu. Uma sala do rés do chão estava reservada para a escola de meninas; no primeiro andar, Natália era esperada por uma avó enlutada e louca, três tias dadas à beatitude e uma irmã de 2 anos naturalmente ciumenta. O pai devia estar na taberna que ficava no andar de baixo, a torcer pela chegada de um filho varão.