Em declarações à agência Lusa, o curador da exposição, o cineasta Diogo Varela Silva, seu neto, disse que esta era uma data que Celeste Rodrigues “tanto gostaria de comemorar”.
A exposição, que vai estar patente até setembro, visa “mostrar o seu percurso, e o que fez ao longo de mais de 70 anos de carreira – que foi uma das mais longas no fado – e, passar este testemunho, destas mais de sete décadas dedicadas à canção nacional”, disse Diogo Varela Silva.
Celeste Rodrigues, numa entrevista à Lusa em maio de 2018, recordou que começou a cantar “por brincadeira”, numa “roda de amigos” em que estava o empresário de espetáculos José Miguel (1908-1972), que a convidou para fazer parte do elenco de uma das suas casas de fado, o Café Casablanca, em Lisboa, onde se estreou em 1945.
“O meu sonho não era ser artista, gostava imenso de cantar no meio dos fadistas, não em público, mas aconteceu”, afirmou na altura, quando se preparava para celebrar 73 anos de carreira, no palco do Teatro Tivoli, em Lisboa, em maio de 2018, o seu último concerto.
Quase cinco anos depois, Varela Silva realça “a inteligência” com que a fadista sempre pautou o seu percurso.
O estudioso de fado Luís de Castro, ex-presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), por seu lado, disse à Lusa: “Celeste Rodrigues é um nome intransponível e uma mulher que muito sabia de fado”.
Luís de Castro salientou a “forma regular” como sempre “soube gerir a sua carreira, e os poetas que cantou desde Júlio de Sousa a David Mourão-Ferreira”.
“O fado sente-se. Ninguém conhece de fado. O fado é para a gente sentir. Muita gente mostra-se muito entendida sobre o fado, mas aquilo de que dizem que entendem não é fado”, afirmou Celeste Rodrigues à Lusa, numa das suas derradeiras entrevistas, ideia que reforçou sempre no seu discurso.
Sobre a exposição, Diogo Varela Silva disse que estarão patentes “as várias condecorações que recebeu, filmes, fotografias e alguns textos”.
Varela Silva destacou ainda a fotobiografia de Celeste Rodrigues, que organizou e escreveu, a apresentar também na terça-feira.
Nesta fotobiografia está “a história dela, um apanhado histórico que ela foi contando e que eu escrevi, desde o Fundão [onde nasceu] até ao último concerto no Tivoli”, em Lisboa, poucos meses antes de morrer, a 01 de agosto de 2018.
Na inauguração da exposição vão ser apresentados dois temas inéditos que Celeste Rodrigues gravou, aos 95 anos. São eles “Se Alguém me Procurar Pergunta ao Vento”, de Ricardo Maria Louro, com música de Pedro de Castro, e uma versão de Celeste Rodrigues de “A Noite do Meu Bem”, canção de Dolores Duran originalmente gravada em 1959.
Para Diogo Varela Silva preparar este projeto, composto por exposição e fotobiografia, foi bom pois permitiu-lhe rever as memórias boas que tem.
“Eu estou constantemente a lembrá-la, não há dia nenhum que passe que não me lembre dela ou de um pormenor dela – que ela iria gostar disto ou daquilo, ou como ela iria reagir. Ela continua muito presente. É uma saudade presente”.
“Eu mantenho-a muito perto de mim. As pessoas morrem quando as esquecemos”, sublinhou Varela Silva acrescentando: “ela será eterna em mim”.
A fotobiografia inclui um ‘QR Code’ para os dois temas inéditos.
Na inauguração da exposição atuam os músicos que acompanhavam habitualmente Celeste Rodrigues: o seu bisneto, Gaspar Varela, e Pedro de Castro, na guitarra portuguesa, André Ramos, na viola, e Francisco Gaspar, na viola baixo.
Esta não é a primeira vez que Celeste Rodrigues, criadora de êxitos como “Olha a Mala”, “Saudade Vai-te embora”, “Mulher da Beira” ou “A Lenda das Algas”, é homenageada no Museu do Fado.
A 25 de outubro de 2007, a fadista foi homenageada pela APAF, por ocasião do 13.º aniversário da associação.
Celeste tinha colaborado, anteriormente com a APAF, nas jornadas de fado, na Fonoteca Municipal de Lisboa, evocando o poeta e compositor Frederico de Brito (1894-1977).
Na ocasião afirmou à Lusa: “Comecei com reportório do Britinho [Frederico de Brito] e cantei sempre letras de que gostava e que percebia. Letras que me ofereciam. E ainda hoje assim é”.
Em 2013, Celeste Rodrigues foi também homenageada no Museu do Fado, com a apresentação de um vídeo de Bruno Almeida e de um CD/DVD, comemorativo do seu 90.º aniversário.
O vídeo contou com a participação de Camané, Carminho, Ricardo Ribeiro, Aldina Duarte, Hélder Moutinho, Fábia Rebordão, Jorge Fernando, Pedro Moutinho, Ana Sofia Varela e Gisela João, entre outros.
Celeste Rodrigues era uma “lenda viva”, para Madonna, mas foi Argentina Santos a reconhecer-lhe o segredo, “uma caixinha de música na garganta”.
“A Celeste tem uma caixinha de música na garganta, à qual alia uma interpretação sentida”, disse numa entrevista à Lusa Argentina Santos, que trabalhou com Celeste Rodrigues na sua casa de fados, Parreirinha de Alfama, e mais tarde no espetáculo “Cabelo Branco é Saudade” (2005), uma criação de Ricardo Pais.
Em 2007, Celeste Rodrigues editou o álbum “Fado Celeste”, produzido por Luís Varatojo, no qual gravou fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Hélder Moutinho, José Luís Gordo e Tiago Torres da Silva.
No ano seguinte, a fadista fez uma digressão aos Países Baixos, em que passou pelo palco do Concertgebow, em Amesterdão.
Em 2010, foi estreado o documentário sobre a sua vida, “Fado Celeste”, realizado por Diogo Varela Silva, e recebeu a Medalha de Prata da Cidade de Lisboa, no cinema S. Jorge.
Em 2015, pelos seus 70 anos de carreira, a secção “Heart Beat” do Festival DocLisboa abriu com uma remontagem do documentário, intitulado, apenas, “Celeste”.
Em 2012, foi condecorada com a Ordem do Infante D. Henrique, grau de comendador.
Celeste Rodrigues atuou em abril de 2017 no Town Hall, em Nova Iorque, ao lado de Carlos do Carmo, no âmbito do Festival de Fado.
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