Naomi Parker Fraley será um nome desconhecido para a maioria, mas poucos não terão já cruzado o olhar com esta operária americana, através de um famoso cartaz de propaganda da Segunda Guerra Mundial, entretanto adotado por movimentos feministas. Neste dia Internacional das Mulheres, decretado em 8 de março de 1997 pela ONU (Organização das Nações Unidas), revisitamos a história por detrás da icónica imagem da mulher vestida de fato-macaco azul, com um lenço vermelho às bolinhas brancas a segurar-lhe o cabelo, iniciada numa fábrica de equipamentos militares.
Naomi Parker trabalhava na reparação de aviões de combate, na cidade californiana de Alameda, no ano de 1942, quando um repórter fotográfico da agência noticiosa United Press Internacional a captou em plena ação, a manipular máquinas e ferramentas. Uma dessas fotografias serviria depois de inspiração ao ilustrador gráfico J. Howard Miller para desenhar a operária de olhos azuis a exibir a força muscular, de manga arregaçada e a mostrar o bíceps do braço direito. No topo, a mensagem “We can do it!”, ou nós conseguimos, numa tradução livre.
O ataque japonês a Pearl Harbor tinha ocorrido meses antes, os Estados Unidos da América já estavam envolvidos na guerra e era necessário o esforço de toda a população para derrotar a Alemanha Nazi e respetivos aliados. Com muitos homens destacados para o conflito, a presença de mulheres na indústria do armamento tornava-se fundamental, daí a necessidade de apelar ao seu sentido patriótico. O célebre cartaz serviu precisamente esse propósito, sendo parte de uma campanha motivacional, que circulou em empresas do país, e que visava, também, combater o absentismo das operárias.
Durante décadas, não se soube que Naomi Parker tinha sido o “modelo” por detrás da imagem desenhada no cartaz, até porque depressa ele desapareceu de cena, sendo apenas recuperado muito mais tarde, já nos anos 1980. Aos poucos, a ilustração começou a colar-se à luta pelos direitos das mulheres, à sua equiparação aos homens, acabando por transformar-se num símbolo dos movimentos feministas.
A mulher “anónima” da fotografia original, que ganharia lastro no cartaz pintado só com cores primárias, havia sido identificada, nessa década de 1980, como Gerldine Doyle, outra operária da Segunda Guerra Mundial que reclamou ser ela a protagonista na imagem. Não era. Em 2009, Naomi Parker deparou-se com a fotografia que dera lugar ao cartaz e apercebeu-se de que estava a ver-se a si própria, com 20 anos, em 1942, na fábrica de Alameda. Tentou demonstrá-lo, recorrendo a jornais daquele tempo, mas ninguém a levou a sério, até que um docente de uma universidade de New Jersey, de seu nome James J. Kimble, publicou uma investigação, em 2016, a desvendar todo o mistério.
Ao fim de mais de 70 anos, a verdade era reposta. O rosto que havia servido a propaganda de guerra americana, primeiro, e depois os movimentos de empoderamento das mulheres, neste caso até aos dias de hoje, era finalmente associado à sua verdadeira musa inspiradora. “Naqueles tempos, as mulheres deste país precisavam de alguns ícones”, afirmou ela à revista People, em 2016, logo acrescentando: “Se acham que eu sou um, fico feliz.”
Após a Segunda Guerra Mundial, Naomi Parker Fraley (o apelido que herdou do terceiro marido) trabalhou sobretudo como empregada de mesa. Morreria em 2018, com 96 anos, mas o célebre cartaz há de continuar a circular por aí.