O estudo, realizado pela Sanford School, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e divulgado esta segunda-feira, denuncia que 11 das 37 corretoras de dados contactadas concordaram vender, sem reservas, dados sensíveis sobre utilizadores de aplicações de saúde mental. Em alguns casos, a informação pode ser disponibilizada de forma agregada, o quer dizer que quem compra esses dados fica a saber, por exemplo, quantas pessoas numa determinada zona sofrem de depressão. Ou de ansiedade, ou de insónia, défice de atenção e até Alzheimer.
Os investigadores não chegaram a comprar essas informações, mas, em muitos casos, estas empresas que se dedicam à compra e venda de dados disponibilizaram amostras grátis.
O estudo, que decorreu ao longo de dois meses, não identifica as empresas, mas adianta que algumas vendem 5 mil relatórios agregados (que permitem percebem quem sofre do quê e onde) por valores tão baixos como 255 euros.
Uma das corretoras de dados “comunicou ao investigador do estudo informações de saúde mental altamente sensíveis, incluindo nome, etnia e morada de indivíduos com depressão, transtorno bipolar, problemas de ansiedade, ataques de pânico, perturbação de stress pós-traumático, perturbação obsessivo compulsiva, e transtornos de personalidade, bem como indivíduos com cancro ou que sofreram acidentes vasculares cerebrais”.
Segundo as estimativas da Deloitte, o mercado global de aplicações de saúde mental valeu, em 2022, 465 milhões de euros. As aplicações mais populares são a Calm, a Headspace e a Meditopia que se focam na meditação e no mindfulness. Estas podem ser usadas para registo e controlo de sintomatologia provocada pela ansiedade, depressão ou ataques de pânico. A utilização destas apps já estava em alta antes da pandemia de Covid-19, porém, o stress provocado pelos confinamentos e as restrições à circulação deram um empurrão a esta ajuda tecnológica.
A compra e venda de dados é um negócio multimilionário em que empresas recolhem, agregam, analisam, compram, vendem e partilham dados sobre indivíduos. A informação recolhida vai desde dados pessoais, a dados bancários ou até filiação política. Os compradores destes dados abrangem, entre outros, empresas de publicidade, fornecedores de seguros, bancos e instituições financeiras. “Os dados de saúde são alguns dos dados mais sensíveis que existem, e a maioria de nós não faz ideia de quanto deles está à venda, muitas vezes por apenas algumas centenas de dólares”, lamentou Justin Sherman, que dirigiu a equipa de investigação, ao Washington Post.