Tensões e falhas de comunicação no local de trabalho são situações que ocorrem com frequência, e muitas vezes não tem nada a ver com uma determinada tarefa ou projeto que precisa de ser discutido, mas sim com a personalidade de cada um, por isso é que existem colegas que se dão tão bem e outros que aprendem, com esforço, a lidar uns com os outros.
De acordo com Ali Walker, professora na Universidade de New South Wales (UNSW), em Sydney, Austrália, doutorada em dinâmicas de grupo e consultora em cultura organizacional, a solução não passa por evitar esses conflitos, mas aprender a lidar com eles. “Felizmente, existe uma estratégia para lidar com as relações menos harmoniosas no local de trabalho”, garante a especialista, que escreveu para o The Guardian. A especialista afirma que os problemas são inevitáveis e que, nestes casos, “os chefes devem abordá-los com rapidez e firmeza”.
Walker, que é autora do livro Click or Clash?, – sobre estratégias para lidar com relações de amor, amizade e de trabalho – explica que, se as pessoas tiverem maneiras diferentes de processar e expressar informações, é habitual que ocorram desencontros de comunicação, que podem, consequentemente, provocar conflitos. “Uma pessoa pode gostar de processar os seus pensamentos e ideias através de conversas – processamento externo -, enquanto outra prefere processá-los através de uma reflexão silenciosa – processamento interno – e expressar as suas ideias apenas depois de definir um caminho a seguir”, esclarece a especialista. Por exemplo, numa reunião de trabalho, uma pessoa pode sentir que foi interrompida de maneira rude e, para a outra, a interrupção pode ter sido apenas uma forma de mostrar entusiasmo relativamente a uma determinada ideia.
A professora escreve ainda sobre a possibilidade de ocorrerem conflitos culturais no trabalho, isto é, quando as origens e valores “em relação a papéis de género, idade, educação, etnia, religião e crenças políticas”, e até mesmo relativamente ao humor, são opostos. Walker dá o exemplo de um funcionário jovem que pede ao seu chefe para trabalhar em regime híbrido, o que pode fazer com que o líder ache que o funcionário não quer trabalhar tanto. Por outro lado, o trabalhador mais novo sente que trabalhar em casa é mais produtivo e eficiente.
Além disso, a especialista aborda um tema que, com a pandemia de Covid-19, trouxe novas discussões profissionais: o estilo de trabalho (ambiente) de cada um, ou seja, se preferem trabalhar de casa ou a partir do escritório ou em equipa ou individualmente, por exemplo.
Apesar de estas situações serem comuns e terem resolução com mais ou menos facilidade, Walker alerta que “caso as interações com um colega de trabalho forem além de um conflito de personalidade e entrarem no território da intimidação ou exploração no local de trabalho”, é necessário informar o chefe “imediatamente” ou falar com um responsável pelos Recursos Humanos da empresa. “Neste ponto, muitas vezes é útil usar a mediação para seguir em frente”, defende a especialista.
No mesmo artigo, Walker dá outras dicas para se conseguir lidar com conflitos que possam acontecer no trabalho. Um deles é não olhar para as discussões como um ataque pessoal. “Reconheça que os confrontos são uma parte normal da vida e calcule com calma se o conflito se enquadra na categoria de comunicação, condicionamento cultural ou conflito de trabalho”, aconselha.
A especialista apela também à reflexão – pedindo que se faça, introspetivamente, perguntas como “o que há no comportamento desta pessoa que me provoca?” e “esta pessoa está a incomodar-me porque tem uma característica que eu gostava de ter?” – e explica a importância de se partilhar com a equipa “as preferências de comunicação”, ideias e situações que possam estar a incomodar.
Walker diz ainda que é importante criar um plano de comunicação, com base nas preferências e caraterísticas da equipa e de cada pessoa, individualmente. “Identifique como é um dia típico para cada pessoa que trabalha no seu estado preferido”, começa por aconselhar. “Se todos na equipa entenderem as necessidades uns dos outros, será mais fácil comportarem-se com empatia e respeito”, garante ainda, acrescentando que “a equipa pode estabelecer os horários ideais para comunicar e os momentos de silêncio para foco e trabalho individual”.