A Interpol está em alerta para um eventual risco de fuga da prisão de Sérgio Roberto de Carvalho, aquele que já foi o narcotraficante mais procurado do Brasil (e até, talvez, do mundo), que se encontra detido, desde junho do ano passado, em Budapeste, na Hungria.
Fonte da Interpol confirmou à VISÃO que, no submundo do crime organizado, circula a informação que Sérgio Roberto de Carvalho, também conhecido como Major Carvalho, estará disponível para “oferecer uma elevada quantia de dinheiro a quem se dispuser a colaborar e a participar num plano de fuga”, que lhe permita regressar à liberdade. As autoridades húngaras já terão sido alertadas para esta possibilidade – e a Polícia Judiciária portuguesa também já estará ao corrente da situação.
O ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, no Brasil, terá liderado, durante décadas, uma rota de tráfico de cocaína que ligava a América do Sul e a Europa, com Portugal a servir (em muitas ocasiões) como “porta de entrada” para o Velho Continente, como contou a VISÃO numa grande reportagem de investigação publicada em março de 2021.
Sérgio Roberto de Carvalho – também designado como o “Escobar Brasileiro” (numa referência ao famoso narcotraficante colombiano Pablo Escobar) – foi detido em junho de 2022, quando tomava o pequeno-almoço num hotel localizado próximo do Parlamento de Budapeste, junto às margens do Danúbio, onde estava alojado com um passaporte mexicano em nome de Guilhermo Diaz Flores.
Poucos dias depois da sua detenção, a PJ localizava e detinha aquele que as autoridades portuguesas acreditam ser o principal operacional na Europa da organização liderada por este narcotraficante brasileiro: o português Rúben Oliveira, que usa a alcunha de “Xuxas”.
Fragilidade física e Bélgica “ao barulho“
Sérgio Roberto de Carvalho permanece detido na penitenciária de Budapeste, depois de ter comunicado ao tribunal que não autoriza ser extraditado. Segundo a VISÃO apurou, a condição física do Major Carvalho, nestes últimos meses, tem dado sinais de maior fragilidade – o narcotraficante brasileiro terá perdido quase 20 quilos e apresenta queixas físicas, nomeadamente um problema ocular, que lhe estará a afetar a visão. Apesar deste quadro clínico, as autoridades húngaras têm manifestado cautelas num eventual internamento em unidade hospitalar externa à penitenciária. O eventual risco de fuga estará por detrás desta hesitação.
Entretanto, as autoridades brasileiras continuam a trabalhar para reunir e apresentar documentação com vista à extradição do “Escobar brasileiro”. Ao mesmo tempo, sabe a VISÃO, as autoridades belgas também estarão a ponderar avançar com um pedido idêntico, uma vez que o Major Carvalho é apontado como um dos principais responsáveis pela entrada de cocaína naquele país europeu.
Lisboa e uma fuga que terminou em Budapeste
Sérgio Roberto de Carvalho, que se encontrava a monte desde 2020, terá chegado a viver escondido em Lisboa, onde terá detido escritório e apartamentos, na Avenida da República. Localizado pela polícia portuguesa, terá conseguido fugir, primeiro, para Kiev, na Ucrânia, e, depois, para o Dubai. Para trás, o narcotraficante terá deixado quase 12 milhões de euros em notas, guardados em malas no porta-bagagens de uma carrinha estacionada na garagem de um apartamento de luxo na Avenida da Liberdade, situação que continua em investigação – as autoridades admitem, porém, que este homem ainda possa ter dinheiro guardado em Portugal.
Usando várias identidades, o ex-major da Polícia Militar brasileira terá vivido em Espanha (em Marbella), com o nome falso de Paul Wouter, um suposto cidadão natural do Suriname (ex-colónia holandesa na América do Sul). No país vizinho, chegaria a ser preso, porém, conseguiria permissão para responder ao julgamento em liberdade, após o pagamento de uma fiança, o que lhe permitiu escapar às autoridades espanholas, depois de simular a sua própria morte – ou, neste caso, a morte de Paul Wouter. Encontrava-se, desde então, em local incerto.
Entre as muitas suspeitas que recaem sobre si (incluindo o homicídio de opositores e testemunhas), Sérgio Roberto de Carvalho foi também associado ao caso do avião Dassault Falcon 900, propriedade da Omni, empresa privada de transporte aéreo sediada no Aeródromo de Cascais.
No dia 10 de fevereiro de 2021, no interior da fuselagem da aeronave, foi encontrado mais de meia tonelada de cocaína, numa altura em que o avião já se preparava para voar entre Salvador e Tires – da lista de passageiros, recorde-se, constava o nome do ex-presidente do Boavista João Loureiro (que, entretanto, seria ilibado pela investigação da Polícia Federal brasileira).
No dia 21 de junho de 2022, o percurso do “Escobar brasileiro” sofreria uma reviravolta decisiva, depois de localizado e preso em Budapeste, na Hungria. É lá que permanece.