Uma pilha de livros por vender. Um escritor sozinho. A caneta por usar. Duas únicas pessoas a pedir um autógrafo. Há lá cenário mais desolador para quem se estreia no mundo das letras?
Foi isto que aconteceu recentemente à romancista Chelsea Banning. E agora o seu livro Of Crowns and Legends tornou-se um bestseller na categoria de livros sobre o Rei Artur (Arthurian Fantasy) da gigante Amazon. Como é que se deu o milagre?
Para deixar de lado o suspense, agradeça-se já ao Twitter, até porque tem fama de só existir para destilar ódios. Mas, afinal, quando os utilizadores se juntam para promover algo positivo isso faz com que a existência da rede social até mereça a pena.
Chelsea Banning é uma bibliotecária de Ohio, fascinada pela história do Rei Artur. Em agosto publicou o seu primeiro livro de uma triologia sobre essa lenda medieval. Na semana passada, a autora novata estava bastante entusiasmada com a sessão de autógrafos em Ashtabula, a terra natal do seu marido – 37 pessoas haviam confirmado a sua presença, o que, digamos, para uma estreante é uma excelente cifra.
Na realidade, apareceram apenas dois leitores interessados na sua assinatura. Chelsea, presença assídua na rede social que por enquanto ainda pertence a Elon Musk, usou esse fórum para mostrar a sua frustração e embaraço. Em boa hora, acrescente-se.
Como poderia adivinhar que uma série de outros autores, alguns deles bastante famosos, como Margaret Atwood ou Stephen King, começassem um movimento de solidariedade, contando, na mesma plataforma, alguns episódios de lançamentos de livros em que saíram de lá igualmente embaraçados.

“Junta-te ao clube”, escreveu a autora de Handmaid’s Tale. “Fiz uma sessão de autógrafos em que ninguém apareceu, exceto um tipo que queria comprar fita cola e achou que eu seria a ajuda”, concluiu Atwood.
A história de Stephen King não é muito diferente: “Na minha primeira sessão da Hora do Vampiro só tinha um cliente – um miúdo gordo que me perguntou: ‘Sabe onde posso encontrar livros nazis?'”

A escritora coreana Min Jin Lee, autora de Pachinko, também se juntou à onda de solidariedade contando que certo dia, numa sessão sua, apenas contou com um primo do seu marido. “Às vezes enchemos os locais de evento, outras temos sorte se a nossa mãe aparecer.”
Mas a melhor notícia saída deste #metoo de escritores é que Chelsea teve mais de 70 mil corações no seu post, subiu para 14 mil os seus seguidores no Twitter, viu o seu desabafo partilhado mais de sete mil vezes e organizou uma segunda sessão que foi… um êxito. Apareceram duas televisões locais, a sala estava a abarrotar e os seus livros esgotaram. Haverá melhor presente de Natal?