Até ter recebido um email de Joshua Moon, em agosto, Hugo Carvalho desconhecia o site Kiwi Farms, fórum de debate, em prol da liberdade de expressão – alegadamente. Apesar de ser programador e um dos sócios da DiamWall, empresa portuguesa de cibersegurança com três meses, Hugo, 26 anos, não fazia ideia do que aquele norte-americano de 30 anos precisava. “Null”, como é conhecido online, fez-se passar por um cliente regular, cujo site era alvo de muitos ciberataques DDoS (aqueles que deixam a rede totalmente offline), dizendo que outras empresas de fornecimento, entrega e distribuição de conteúdo – as chamadas Content Delivery Network (CDN), que funcionam como filtro do tráfego legítimo e do tráfego malicioso – não lhe asseguravam o serviço.
O Kiwi Farms tinha sido expulso da Cloudflare, reputada empresa de cibersegurança internacional, após ser relacionado com o suicídio de três pessoas, num artigo do site noticioso Vice. Como Hugo Carvalho não encontrou qualquer associação a movimentos terroristas, por exemplo, acionou o servidor e o site ressuscitou. Mas apenas durante quatro a cinco horas. Foi o tempo de Hugo pesquisar mais a fundo e encontrar de tudo, desde zoofilia (relações sexuais com animais) à exposição de dados pessoais de figuras públicas internacionais. “Bastou ver material de zoofilia para saber que não iria permanecer na nossa CDN”, garante. E acrescenta: “Ainda lhe apresentámos uma solução: remover tudo o que era ilícito, mas não quis. Alegou sempre o direito à liberdade de expressão. Acredita que está a fazer uma coisa boa, ao estar vigilante.”