Noites de verão são sinónimo de ouvir um mosquito a zumbir nos nossos ouvidos. A batalha é desigual, pela simples habilidade que os mosquitos possuem de nos encontrarem, já que são extremamente atraídos pelo odor corporal e pelo dióxido de carbono da respiração.
Um novo estudo, levado a cabo por investigadores norte-americanos e publicado na revista Cell, sugere que os mosquitos, em especial as fêmeas Aedes aegypti, têm vários recetores sensoriais alojados dentro de cada neurónio olfativo, enquanto o resto dos animais tem apenas um, o que lhes confere uma atração elevada pelos humanos.
De acordo com a investigação, a maioria dos animais possui neurónios específicos para detetar cada tipo de odor com apenas um receptor. A novidade deste estudo é que o mecanismo nos mosquitos é diferente: estes insetos podem captar cheiros por várias vias.
A pesquisa contou com análises genéticas, para se entender como é que o cérebro do mosquito decifra os odores humanos. Os investigadores retiraram do genoma de alguns mosquitos as proteínas sensíveis ao odor humano e constataram que mesmo sem estes recetores, aqueles conseguiam encontrar-nos.
Depois da descoberta, os responsáveis examinaram as antenas dos mosquitos, que conseguem ligar-se a substâncias químicas (como o dióxido de carbono da respiração) presentes no ambiente e sinalizar uma ligação entre estas e o cérebro do mosquito.
“Nós assumimos que os mosquitos seguiriam o dogma central do olfato: apenas um tipo de receptor é expresso em cada neurónio. Mas em vez disto, o que vimos é que diferentes recetores podem responder a diferentes odores no mesmo neurónio”, explicam os investigadores.
Os resultados das análises mostraram que a perda de um ou mais recetores não afeta a capacidade que os mosquitos têm em sentir os odores do corpo humano. Para os cientistas, este mecanismo pode revelar uma evolução da capacidade de sobrevivência dos mosquitos – um sistema olfativo adaptado para que não tenham dificuldade em encontrar alimento.
Por fim, a investigação sobre o funcionamento do cérebro dos mosquitos pode ajudar os cientistas a intervir no comportamento destes insetos, além de promover o desenvolvimento de repelentes mais eficazes e ajudar na redução da transmissão de doenças como a malária e a febre amarela. “Se pudéssemos usar este conhecimento para entender como o odor humano é representado nas antenas e no cérebro do mosquito, poderíamos desenvolver repelentes que tenham como alvo os recetores e neurónios que detetam o odor humano”, concluem os investigadores.