A partir do seu comentário inicial, no qual manifestou apoio à decisão de proibir o aborto nos Estados Unidos da América, Miguel Milhão concebeu um plano de marketing para captar as atenções mediáticas para a Prozis. Que não precisava de Portugal para nada – planeado. Que tinha recursos ilimitados – idem. Que os clientes eram uns filhos da p… – aspas, aspas. O acionista maioritário da Prozis garante que tudo não passou de uma ação publicitária, pensada por si na sequência do impacto da declaração inicial.
Numa carta que partilhou com o Jornal de Negócios, o empresário começa por referir que tudo começou na “energia que nasceu” dentro dele ao deparar-se, na rede social Linkedin, com comentários críticos da ilegalização do aborto nos EUA. Ali partilhou a sua opinião “a favor da vida” e, no dia seguinte, diz ter ficado surpreendido com as repercussões da mesma, com uma dimensão que “não achava possível acontecer”. Nas redes sociais, logo surgiram muitas vozes a apelar ao boicote dos produtos da marca e várias personalidades e influenciadores digitais anunciaram que não voltariam a fazer-lhe publicidade.
“A mob [multidão] atacava tudo. Miguel, Prozis, parceiros, funcionários… Queriam destruir tudo por causa da minha opinião”, diz, sobre o momento em que, assegura agora, engendrou uma campanha de marketing: “Comecei a fazer aquilo em que sou melhor, que é pensar. Como poderia tornar uma situação terrível em benéfica para mim, para a Prozis e para os portugueses?”.
Miguel Milhão diz ter concluído que a tal multidão não passava de um grupo de “zombies”, “seres humanos que foram contaminados por um vírus que lhes retira a capacidade de pensar”. Decidiu então, continua, “fazer declarações cada vez mais incendiárias para atrair o máximo de zombies” para a causa. Dá como exemplos a tirada “sou incancelável” e várias outras.
“Tenho recursos ilimitados. Quem é que acreditaria numa declaração tão absurda como esta? Ninguém, mas atraiu os zombies. A Prozis não precisa de Portugal. Quem poderia acreditar que uma empresa que tem 10 fábricas, mais de 10 mil colaboradores, milhares de parceiros e centenas de milhares de clientes em Portugal não precisaria deste país? Ninguém, mas atraiu os zombies. Quem poderia acreditar que alguém que fica dez anos sem falar com a comunicação social chega para chamar filhos da… aos seus clientes? Ninguém, mas isso atraiu muitos zombies.”
Segundo ele, tudo não passou de uma estratégia de comunicação. “A Prozis teve publicidade como nunca na sua história. Com toda a humildade, acho que merecia um prémio de marketing”, afirma, estimando que “o valor conseguido em publicidade esteja acima dos 10 milhões de euros”.
A terminar, Miguel Milhão congratula-se por ter feito com que “os zombies trabalhassem” para ele “simplesmente porque não pensam”, acrescentando que ninguém estava a par do seu plano: “Tive amigos e familiares que foram a minha casa dizerem-me que eu não podia dizer aquelas coisas porque eu não sou assim. A minha mulher dizia o mesmo. Ninguém me virou as costas. Confiaram no que estava a fazer.”
Antes de se despedir, qual Grande Mestre de xadrez, ainda atirou: “Aos zombies, eu só digo xeque-mate.”