Sempre quis investir o dinheiro que tem guardado mas não sabe como, quando ou onde? Bárbara Barroso, criadora do podcast “MoneyBar”, promete no seu novo livro “Ponha o seu dinheiro a trabalhar para si”, ao longo de 7 passos, apresentar um plano com as estratégias e as ferramentas de que precisa para atingir liberdade financeira.
“Fala-se muito de poupança, mas pouco de investir”, diz. Assim, a especialistas em finanças pessoais, consultora financeira, empresária e palestrante internacional há mais de 10 anos, promete ensinar como orçamentar, planear, investir e “pôr o dinheiro a trabalhar a nosso favor”. “Tudo começa por reprogramar a mente para pensar como um milionário. Depois é definir um plano para atingir os objetivos e metas financeiras e ajustar a rota. É importante que não fique apenas pela leitura deste livro, mas que entre já em ação”, afirma.
PONHA O SEU DINHEIRO A TRABALHAR PARA SI
Como começar a investir
Para quem nunca investiu na vida e que o máximo que fez foi deixar o dinheiro num depósito a prazo, a ideia de ter investimentos financeiros em ações, obrigações ou outros ativos pode parecer um bicho de sete cabeças e o processo mais complexo do que realmente é. Agora que já domina os vários conceitos, os riscos e os instrumentos financeiros, é tempo de passar à ação. Por isso, vou sistematizar-lhe num plano com dez etapas como começar a fazer os primeiros investimentos.
- Definir objetivos: Sem conhecer os seus objetivos em concreto é mais difícil definir um plano financeiro eficiente. Assim sendo, tudo começa por perceber o que pretende fazer com o seu dinheiro. Com as ferramentas que adquiriu ao longo deste livro já terá uma maior clareza sobre as suas metas. É importante que escreva, arranque dos pensamentos e coloque no papel. Porque na cabeça está a partilhar espaço com muitas coisas que vão ficar ali mesmo, só na cabeça. Quando escrevemos é como se déssemos um passo no processo de materialização. Permite-nos visualizar. E a visualização é muito importante! Não se preocupe com o tamanho da lista, afinal o que está a fazer é a estabelecer o que é mais importante para si. Depois de fazer esta lista, verá com mais clareza quais são os seus objetivos. Lembre-se de que estes devem ser SMART.
- Entender os diferentes tipos de investimento: É fundamental que entenda os diferentes tipos de investimento de acordo com o risco para o seu dinheiro. Normalmente, investimentos arriscados devem ter uma perspetiva de longo prazo, já que em longos períodos de tempo costumam superar a rentabilidade dos investimentos mais conservadores. Vejamos alguns exemplos do tipo de investimento que se encaixa em cada uma das categorias:
- Investimentos conservadores: depósitos a prazo, certificados de aforro, seguros de capitalização.
- Investimentos moderados: obrigações de dívida soberana com bom nível de risco, ou seja, de países com risco moderado.
- Investimentos arriscados: ações, derivados, obrigações com classificação de «lixo».
- Existem muitos mais investimentos disponíveis e alguns, conforme a sua composição, podem ter mais ou menos risco.
- Escolha um banco de investimento, sociedade gestora ou corretora: Depois de definir os objetivos e escolher os instrumentos financeiros que vão compor a sua carteira, é tempo de abrir uma conta para o efeito. Isso significa que poderá abrir conta num banco de investimento, numa sociedade gestora ou corretora. Independentemente da escolha que faça, recorrer às entidades especializadas acaba sempre por ser melhor. Se quer investir em ações ou ETF, abrir conta numa corretora será o mais apropriado. Se quer investir num determinado fundo de investimento, pode abrir conta num banco de investimento (que é diferente de um banco de retalho); se quer investir num PPR, pode abrir conta numa sociedade gestora. Ou seja, há entidades especializadas para cada tipo de instrumento. E, mesmo dentro dessas entidades, há que depois analisar as ofertas. Para explicar de uma forma simples: o seu talho até pode vender pão para acompanhar as bifanas, mas quando quer comprar pão onde vai? À padaria. É a mesma coisa nos investimentos. Os bancos de retalho até podem oferecer serviços de corretagem, mas as comissões e a oferta de negociações de instrumentos serão certamente distintas de uma corretora que se dedica apenas a esse segmento de negócio.
- Tenha atenção às comissões: As comissões, a par da fiscalidade, são grandes consumidores dos ganhos. Quanto mais elevadas, menos rende o nosso dinheiro. Por isso, verificar quais são as comissões cobradas é muito importante. Antes mesmo de abrir uma conta para os investimentos, analise todas as comissões que lhe serão aplicadas. Já quando subscrever fundos de investimento, planos poupança reforma, entre outros, tenha também atenção às comissões de subscrição, de resgate, de gestão, de custódia. Há muitos casos de produtos que apresentam rentabilidades brutas até interessantes, mas que na prática, depois das comissões que lhes são aplicados, ainda se perde dinheiro. Em termos de impostos, procure saber antecipadamente como é feita a sua tributação.
- Abra a conta e faça a transferência do seu dinheiro: Depois de escolher a instituição que vai utilizar para fazer os seus primeiros investimentos, trate de toda a documentação para abrir a conta. Algumas entidades podem pedir um mínimo para abertura de uma conta e outras não. Depois transfira o dinheiro para a conta. Procure saber quanto tempo demora entre transferir da conta do seu banco para a conta de investimento e quanto tempo o dinheiro fica disponível para poder investir. Isto pode vir a ser relevante para quando fizer os próximos reforços.
- Faça o seu primeiro investimento: Após ter o dinheiro disponível na conta já estará apto a fazer o seu primeiro investimento. Mas antes procure esclarecer todos os detalhes das plataformas para entender o seu funcionamento e garantir que o investimento corre bem. Por exemplo, se for um investimento por si, ou seja, sozinho (por exemplo: ações, ETF), apenas terá de escolher o título no qual vai investir e colocar a ordem de compra. Quando esta for executada, irá receber um aviso na plataforma de execução e esta passará a constar do seu portefólio. A partir daí poderá mantê-la pelo tempo que entender ou vender. Se fizer investimentos em PPR ou fundos, normalmente é indicado quanto quer investir e a sociedade gestora tratará da compra do instrumento financeiro no dia indicado e este passará depois a constar da sua carteira. É importante lembrar que a composição da sua carteira resulta do somatório de todas as participações financeiras e, por vezes, estas podem não estar todas na mesma entidade, daí que para ver o seu portefólio completo tenha de recorrer a alguma ferramenta que agregue tudo ou utilizar uma folha de cálculo para ir fazendo o acompanhamento dos seus investimentos.
- Diversifique os seus investimentos: Tal como já falámos anteriormente, deve procurar escolher investimentos diversificados e diferentes entre si, pois caso um deles não esteja a ter um comportamento tão bom os outros compensam. Quando está a começar é normal ter a carteira concentrada, a não ser que opte por um fundo ou ETF global, mas à medida que vai fazendo reforços e vai comprando diferentes ativos irá naturalmente diversificando. Se conseguir definir, logo à partida, uma percentagem que pretende ter em cada classe e/ou subclasse de ativos, será depois mais fácil construir a carteira de investimentos já com uma estratégia e critério.
- Não invista no que não conhece: Se não percebe do que se trata, não coloque o seu dinheiro. Se não percebe, não invista. Não assine nada que não compreenda só porque alguém diz que é bom. Tenha muita atenção às fraudes e aos esquemas em pirâmide mascarados de investimento. Infelizmente haverá sempre burlões e todo o cuidado é pouco.
- Seja fiel aos seus objetivos: Após começar a investir, é normal que se sinta animado. E é mesmo motivo para isso. No entanto, não se esqueça do que o levou a investir em primeiro lugar. Por mais que os seus investimentos arriscados estejam a dar muito mais retorno do que os mais conservadores, não caia na tentação de colocar mais do que deve neste tipo de investimentos. Existem fases em que as coisas vão bem e existem fases em que as coisas vão mal. E falo por experiência própria. Por isso, não deixe estes ciclos atrapalharem os seus objetivos e o que definiu para a sua estratégia de investimentos. No longo prazo, o investidor que se dá bem é aquele que foi fiel às suas estratégias e não tomou decisões por impulso.
- Reajuste o seu plano de investimentos se necessário: Caso as circunstâncias da sua vida (um evento qualquer) ou mesmo do mercado se alteraram, pode ser necessário reajustar o plano e os investimentos. Com isto quero dizer que não é preciso estar a olhar para a evolução das rentabilidades todos os dias. Pelo contrário. É suficiente ir fazendo uma monitorização dos seus investimentos de tempos a tempos ou caso tenha saído alguma informação relevante que implique uma alteração. Nada nos investimentos é estanque. É tão importante entrar em ação como saber ajustar a rota quando necessário.
Se seguir estas dez etapas é sinal de que se tornou num investidor e que já pôs o seu dinheiro a começar a trabalhar para si. Agora é importante que dê continuidade e invista com regularidade. Se os primeiros investimentos representam uma grande emoção, exatamente por serem os primeiros, à medida que vai investindo, isto vai-se tornando um hábito e passará a ter o seu plano em velocidade de cruzeiro. Verá nessa altura como tudo passará a ser mais natural para si.
Cuidados a ter antes de investir
No mundo dos investimentos, mais do que saber de indicadores ou avaliações financeiras para montar o portefólio ideal, há que minimizar ou mesmo evitar alguns dos erros clássicos que continuam a deixar muitas pessoas longe dos seus objetivos. Se calhar vai identificar-se com alguns desses erros, que eu também cometi quando comecei a minha jornada de planeamento financeiro e investimentos. É normal errarmos, falharmos e tomarmos más decisões financeiras, até pela forma como fomos «programados» em termos financeiros ao longo da vida, conforme mencionado nos primeiros capítulos. Não nos podemos esquecer de que nós, investidores, somos seres humanos, e se é verdade que a ciência, a tecnologia e muitas outras coisas evoluíram muito ao longo dos anos, o comportamento humano não evoluiu assim tanto. Por isso, partilho consigo alguns dos cuidados que deve ter e evitar.
- Expectativas desajustadas: Quando se tem um mercado em alta durante mais de uma década, torna-se difícil culpar os investidores por terem expectativas desajustadas. Mas ainda assim, quando vamos analisar as principais bolsas norte-americanas e até europeias, não foram poucas as vezes em que os mercados caíram 10%. E o que tenho reparado nos últimos anos é que, entre os novos investidores, há uma descolagem da realidade, talvez por ainda não terem estado tempo suficiente no mercado. De acordo com o Estudo de Investidores Globais da Schroders, em média, os investidores preveem retornos anuais de 10,9% provenientes dos seus investimentos nas bolsas de valores. No caso dos investidores portugueses inquiridos, a expectativa era de terem retornos de 10,66%. Aqui é preciso ter bem alinhadas as expectativas com a realidade sob pena de se ficar frustrado por não se conseguir tais rentabilidades.
- Tentar prever os movimentos do mercado (time the market): Isto não é fácil e, na verdade, é melhor deixar isso para os profissionais. Mesmo alguns deles também não o conseguem. Vários dados demonstram que o investidor médio, ou seja, o pequeno investidor, perde muito dinheiro por ano devido a más decisões sobre quando entrar e quando sair. Muitas vezes também porque a parte emocional ganha e perde a noção dos fundamentais das empresas, ou seja, do que realmente conta na avaliação se determinado ativo é ou não um bom investimento. Porque flutuações de preço vão sempre existir.
- Assumir muito ou pouco risco: É frequente os investidores que fazem a sua gestão sozinhos terem carteiras de investimento desadequadas ao seu perfil de risco ou mesmo ao horizonte temporal do seu investimento. Podem ter carteiras que mal cobrem a inflação ou então ter uma exposição demasiado alta quando se estão a aproximar do momento em que precisam do dinheiro. Ter um portefólio ajustado ao seu risco e ao horizonte temporal é fundamental para não ter dissabores.
- Não serem verdadeiramente diversificados: A diversificação do portefólio pode ajudar a evitar desastres numa crise. Se a ação afundar, outras podem não ser tão atingidas. Muitos investidores acreditam que manter o seu dinheiro em dois ou mais fundos ou ETF pode resolver esse problema, mas, na realidade, podem não estar necessariamente a ter a diversificação de que precisam, sobretudo se houver duplicação de ações ou mesmo de setores. É por isso sempre importante, mesmo quando faz investimentos através de fundos ou de ETF, perceber qual a sua composição.
- Ignorar o impacto das comissões e impostos: Quando está a investir, mesmo no longo prazo, é preciso ter atenção às comissões associadas ao investimento, nomeadamente: comissões de subscrição, de gestão, de resgate, qual o custo das comissões de custódia, corretagem, de câmbio, além de toda a parte fiscal. Claro que não sabemos como será a situação fiscal daqui a 20 anos e temos de tomar as decisões com base no que sabemos hoje, mas investir e ignorar esta parte pode sair caro. Poderá ver uma parte do seu capital ser «comida» por comissões e impostos e ficar aquém da rentabilidade esperada.
- Estar tão obcecado com ganhos que ignora a gestão de risco: O nosso cérebro de investidores está treinado para se concentrar em acumular o máximo de dinheiro possível e no menor tempo possível. De preferência, se não for pedir muito, sem grande esforço. Para ilustrar melhor isto, vamos olhar para o caso de alguém que está a planear a reforma e que não prevê fazer qualquer ajuste nos investimentos à medida que se aproxima da data de resgate do investimento.
O Manuel tem 60 anos e aproxima-se a passos largos da idade da reforma. Por isso mesmo, no seu caso, deve diminuir o nível de exposição a ativos mais voláteis para reduzir o risco de perda de capital no momento em que for precisar do dinheiro.
Quando faltam cinco anos ou menos para a idade do resgate,deve ir ajustando o seu portefólio para minimizar o risco. Não sabemos o que vai acontecer, mas podemos preparar-nos e é isso que a gestão de risco permite. Por exemplo,muitas vezes o foco não é saber quando virá uma nova crise,se virá, ou se haverá um tombo nos mercados. A questão é saber se o seu portefólio está preparado caso isso aconteça. Se não estiver, então está na altura de fazer uns ajustes.
- Não investir em literacia financeira: Se está a ler este livro,claramente que não comete este erro. Quando falo em investir em literacia financeira, não falo em ser um diretor financeiro,um consultor ou passar a ser analista. Falo de procurar informação e conhecimento. Pode ser investir em pedira ajuda de algum profissional, investir em livros, formações,cursos que lhe permitam compreender melhor este mundo para tomar melhores decisões. Vejo com frequência pessoas a cometerem este erro: querem investir o dinheiro, mas não investem em conhecimento. E, no fundo, é o conhecimento que permite tomar as melhores decisões. Informação é poder. Conhecimento é sabedoria.