Perante a possível colisão de um asteroide de grandes dimensões com a Terra, seriam a tecnologia e os recursos atuais suficientes para impedir resultados eventualmente catastróficos? Um estudo publicado recentemente no Arxiv analisa os aspetos técnicos de uma missão levada a cabo para travar um evento semelhante e defende que não só é possível, como é possível fazê-lo num curto espaço de tempo.
O desvio de asteroides não é uma preocupação de agora e há muito que estes corpos rochosos são procurados, monitorizados e organizados de acordo com a ameaça que podem constituir para o planeta Terra. Em 2011, foi publicado no Universe Today um artigo a descrever as diferentes formas de como um asteroide poderia ser desviado da sua rota. Agora, o estudo desenvolvido por Philip Lubin e Alex Cohen, investigadores da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, concentra-se em explicar um método a que se referem como “Pulverize It” (PI).
O método mais eficaz de pulverização é, segundo os autores do artigo, o uso de pequenos dispositivos explosivos nucleares que, combinados com ativos de lançamento de carga pesada como o Space Launch System (SLS) da NASA ou a Starship da Space X, será suficiente para mitigar uma ameaça como a colisão de um asteroide de grandes dimensões a “6 meses” de distância da Terra.
Este método não iria destruir por completo um asteroide de grandes dimensões, até porque tal seria muito difícil. O objetivo é, antes, vaporizar parte da superfície do asteroide gerando, com isso, uma mudança na sua velocidade o que, por sua vez, alteraria o caminho do asteroide desviando-o da sua rota em direção ao planeta Terra.
Em resposta ao Universe Today, o astronauta da Apollo e um dos fundadores da organização de pesquisa de asteroides B612, Rusty Schweickart, garantiu que, de facto, a tecnologia necessária para desviar um asteroide já existe e garantiu que “não precisamos de entrar num grande programa de desenvolvimento de tecnologia para desviar a maioria dos asteroides que representam uma ameaça de impacto”. Acrescentou, no entanto, que essa mesma tecnologia não foi inicialmente montada e testada com esse propósito e que, portanto, não se conhece a sua eficácia.
Lançado pela NASA, oDouble Asteroid Redirection Test (DART) procura começar a fazer testes nesse sentido. “O DART é um teste de tecnologias de defesa planetária para prevenir o impacto de um asteroide perigoso na Terra”, explica a agência no seu site oficial. “Um sistema de asteroides é o campo de testes perfeito” para descobrir se “colidir intencionalmente uma nave espacial com um asteroide é uma maneira eficaz de mudar o seu curso, caso um asteroide que ameace a Terra seja descoberto no futuro”, acrescenta a NASA.
Um evento como a colisão de um asteroide que ameace a vida no planeta é bastante raro e, segundo um estudo publicado em 2017, as probabilidade de um asteroide classificado como perigoso ou fatal atingir a Terra ronda apenas os 1%. Segundo a NASA, “nenhum asteroide conhecido com mais de 140 metros de tamanho tem uma probabilidade significativa de atingir a Terra nos próximos 100 anos”, no entanto “apenas cerca de 40% desses asteroides foram encontrados em outubro de 2021”. Podem existir mais.
Kelly Fast, cientista da NASA que trabalha no Programa de Observação de Objetos Próximos à Terra e membro do Planetary Defense Coordination Office, reforça, em declarações à Vox, que “as probabilidades” de um asteroide de magnitudes significativas colidir com a Terra no nosso tempo de vida “são muito reduzidas”. Ainda assim, em 2019, um asteroide de quase 140 metros, uma dimensão considerável, passou entre a Terra e a Lua sem que tal tivesse sido antecipado pela NASA. Nem tudo pode ser previsto, mas Fast ocupa-se de o tentar fazer sempre que possível, encontrando “asteroides antes que eles nos encontrem”.
Segundo o artigo de Lubin e Cohen, um hipotético impacto de “asteroide de 10 km de diâmetro descoberto 6 meses antes do seu impacto” atingiria a Terra a uma velocidade de 40 km/s e teria uma energia de impacto de aproximadamente 65 TNT (Teratons), “cerca de dez mil vezes maior do que o atual arsenal nuclear combinado de todo o mundo” e “semelhante em termos de energia” à colisão que “matou os dinossauros cerca de 66 milhões da anos atrás”.
As consequências seriam devastadoras e uma “ameaça existencial para a humanidade”, mas o estudo publicado em janeiro deste ano diz ser capaz de “mostrar que a mitigação” de um asteroide desta magnitude “é concebível usando a tecnologia existente, mesmo com o curto prazo de 6 meses de aviso”.
“Embora os números possam parecer assustadores, não está fora do campo da possibilidade, mesmo neste ponto do desenvolvimento tecnológico humano”, dizem Lubin e Cohen. “Isso dá-nos esperança de que um sistema de defesa planetário robusto seja possível mesmo para ameaças existenciais de curto prazo, como descrevemos. Idealmente, nunca estaríamos nesta situação, mas é melhor estarmos prontos em vez de mortos”. A preparação é um reforço feito também por Schweickart, até porque as probabilidades são números e os números também falham.