À tarde, no sossego a seguir ao almoço, António Piriquito pega no caderno A4 de capa preta e liberta a sua veia poética. Enquanto a mulher, Domingas Broco, está deitada a descansar, ele concentra-se num gosto recente, descoberto graças aos contadores de histórias do projeto HumanaMente @ctivos, da Cáritas Diocesana de Beja. “Estou mesmo viciado em fazer versos”, conta, bem-disposto. E da sua pena tanto saem estrofes “em que a verdade também traz mentira”, como contam histórias de povos nómadas da antiguidade. São entre 300 e 400 pequenos poemas (bem) escritos e “todos têm qualidade”, garante.
Aos 75 anos, sofre de ataxia motora, uma falha de coordenação dos movimentos que, no seu caso, lhe afeta as pernas, mas a casa exígua e o corredor estreito até o ajudam a amparar-se nas paredes. António sempre trabalhou na construção civil, mas há uma década as tonturas obrigaram-no a parar.