Depois de quatro dias dentro de um poço a 32 metros de profundidade, em Marrocos, Rayan, um menino de cinco anos, foi resgatado pela equipa de salvamento, mas não resistiu aos ferimentos, o mesmo destino que, em 2019, estava reservado para o espanhol Julen, de dois anos, vítima de circunstâncias idênticas. Como eles, nas últimas décadas, outras pessoas de todas as idades passaram por experiências limite semelhantes, nem sempre trágicas. Aqui recordamos três com final feliz, graças às intervenções das equipas de socorro.
Mineiros soterrados no Chile: 69 dias
Um desmoronamento na mina de San José, no Chile, a 5 de agosto de 2010, deixou 33 homens presos debaixo de terra, a 700 metros de profundidade. Só ao fim de 17 dias, quando já se pensava que estariam mortos, uma sonda os localizou com vida. “Estamos bem no abrigo, os 33”, dizia a nota que enviaram de volta através do aparelho, em jeito de prova de vida.
A partir daí, começaram os trabalhos de resgate, que se revelaram muito complicados, com várias tentativas falhadas até uma perfuração com diâmetro suficiente para passar uma cápsula de transporte ter resultado. Criada pela marinha chilena, a cápsula conseguiu trazer os mineiros, um a um, até à superfície, a 3 de outubro, 69 dias após o desmoronamento. Segundo um deles, sobreviveram à custa de 15 latas de atum, que dividiram entre todos, em porções que começaram em uma colher de chá por dia e acabaram em uma colher a cada três dias.
É o recorde de sobrevivência em situações do mesmo género e deu origem ao filme “Os 33”, com Antonio Banderas, Rodrigo Santoro e Julliete Binoche no elenco.
Encurralados em gruta na Tailândia: 18 dias
Era para ter sido uma visita divertida, depois de mais um treino de futebol, mas a chuva intensa de uma monção encurralou 12 jovens na gruta Tham Luang, na Tailândia, no dia 23 de junho de 2018. Os 11 jogadores com idades entre os 11 e os 16 anos e o seu treinador, de 25, ficaram presos a cerca de quatro quilómetros da entrada, impedidos de voltarem para trás devido à inundação parcial da gruta.
Foram precisos nove dias para a equipa de mergulhadores os encontrar – oriundos de vários países, estiveram cerca de uma centena envolvidos na operação de resgate e um morreu – e outros nove para os salvar a todos. A missão foi um quebra-cabeças, uma vez que obrigava a longos períodos debaixo de água, com recurso a botijas de oxigénio, e acabou por ser acelerada devido ao risco de nova monção.
Durante os nove dias em que estiveram desaparecidos, os 12 jovens tailandeses alimentaram-se apenas da água que caía sobre as suas cabeças, mas foram resgatados sem mazelas importantes.
A bebé caída num poço: dois dias e meio
“O Salvamento de Jessica McClure”. Assim se chamou em Portugal o filme que retrata a história de uma bebé norte-americana de 18 meses que, em 1987, caiu de cabeça para baixo num poço com 20 centímetros de diâmetro e quase sete metros de profundidade.
Tal como aconteceu agora com o marroquino Rayan, a equipa de socorro teve de escavar um buraco paralelo ao poço para depois abrir um túnel na horizontal de modo a chegar a Jessica McClure, na época uma técnica considerada inovadora neste tipo de operações.
Jessica brincava no quintal da casa de uma tia quando se deu o acidente e foi salva ao fim de dois dias e meio. Em 2017, 30 anos depois, ela própria contou à revista People que, entre 15 cirurgias, tiveram de lhe amputar um dedo do pé, porque ter passado quase 60 horas de cabeça para baixo provocou gangrena.
O seu caso foi bastante mediático, a ponto de ter comprado uma casa com o dinheiro das doações anónimas que recebeu na altura e os pais guardaram até ela ser adulta. Quando saiu do hospital, a bebé Jessica, como ficou conhecida, foi recebida pelo presidente dos Estados Unidos da América, George Bush, e abriu a época de 1988 da Liga profissional de Baisebol. Estações de televisão como a CNN acompanharam o resgate em direto, fazendo chegar as imagens a vários países, Portugal incluído. O repórter fotográfico Scott Shaw também ganhou o Prémio Pullitzer com as imagens que captou.