É urgente o lançamento de uma nova vacina para a malária. É preciso um esforço “massivo e urgente”, como adjetiva e apela a Organização Mundial da Saúde (OMS), para levar até às crianças africanas uma nova vacina. As recomendações surgem quando se contabiliza a morte de 180 mil pessoas a mais por ano. Mais do que se pensava anteriormente. Os números mais recentes divulgados pela OMS sublinham a dimensão do problema, pois graças a um novo método “mais preciso” de contagem, estimam que 627 mil pessoas morreram de malária no ano passado, 180 mil a mais do que o total, de acordo com a metodologia antiga. A grande maioria das mortes por malária, 96%, acontecem na África Subsaariana.
Apesar de a pandemia não ter tido um efeito direto na duplicação de mortes por malária, como se estimou, devido à interrupção do tratamento e dos serviços de saúde, as mortes, durante 2020, aumentaram em quase 70 mil, um aumento de 12%, dos quais cerca de 50 mil foram um efeito colateral da paragem devido à pandemia. Um quarto dos mosquiteiros tratados com inseticida – a espinha dorsal dos esforços da OMS para combater a malária – não foram distribuídos durante o ano passado.
Segundo Pedro Alonso, diretor do programa mundial da OMS contra a malária, a vacina RTS,S recomendada para uso generalizado, em outubro, representou uma oportunidade histórica de salvar dezenas de milhares de vidas, principalmente das crianças menores de cinco anos na África Subsariana.
Mas, Pedro Alonso alertou também que se corre o risco de um “fracasso massivo” se os compromissos de financiamento destinados a aumentar a produção e ajudar na implementação da vacina não forem feitos rapidamente. “A verdadeira barreira é a solidariedade internacional”, salienta Pedro Alonso ao jornal britânico The Guardian. “O mundo vai permitir que haja uma primeira vacina contra a malária que pode salvar a vida de dezenas de milhares de crianças africanas todos os anos e vão deixá-la parada na prateleira? Ou vão intensificar?”, questiona.
Ao longo de quatro anos de testes, descobriu-se que o RTS,S previne 39% dos casos de malária e 29% dos casos graves. “Uma redução de 30% em casos graves de malária significa um enorme impacto na saúde pública, provavelmente maior do que qualquer outra vacina contra qualquer outra doença em uso agora”, afirma Pedro Alonso.
A GlaxoSmithKlein, empresa farmacêutica britânica responsável pelo desenvolvimento da vacina RTS,S, comprometeu-se em doar até dez milhões de doses para uso nos programas-piloto já em andamento e fornecer até 15 milhões de doses por ano. No entanto, com mais de 240 milhões de caixas em todo o mundo em 2020, a demanda potencial pode chegar entre 80 a 100 milhões de doses anuais, alertou Pedro Alonso.
“Uma vacina que pode salvar entre 40 mil e 80 mil vidas todos os anos, de crianças africanas, é algo que deve ser tratado com a maior ambição e sentido de urgência. E, por isso, um aumento lento e gradual não seria aceitável. Esta deve ser uma operação massiva e urgente para garantir que possamos alcançar o maior número de crianças e o mais rápido possível.”
Na semana passada, o conselho da Aliança Global de Vacinas, Gavi, aprovou um valor inicial de 137 milhões de euros (155,7 milhões de dólares) para o lançamento da vacina RTS,S. O financiamento ajudaria na introdução, aquisição e entrega da vacina para os países elegíveis na África Subsaariana de 2022 até 2025.
“Agora pedimos aos líderes que aumentem os investimentos para acelerar o desenvolvimento e a entrega de ferramentas mais eficazes e transformadoras para combater o parasita da malária em constante evolução”, apela Abdourahmane Diallo, CEO da RBM Partnership to End Malaria.