Olhos a lacrimejar, irritação na garganta e espirros sucessivos são sintomas comuns das alergias a gatos. Em certos casos, os sintomas tornam-se tão intensos que os donos não têm outra solução senão a de se separem dos seus animais de companhia, tenham eles mais ou menos pêlo ou mesmo nenhum, como os populares Sphynx.
Sem exceção, todos os gatos produzem a proteína responsável pela maior parte das alergias que tanto incomodam pessoas mais suscetíveis, embora em quantidades muito variadas em cada animal. Presente nas glândulas sebáceas da pele e na saliva, a proteína facilmente se espalha pelo corpo dos gatos, muito ciosos, como se sabe, da sua higiene, da qual cuidam, precisamente, com recurso à saliva.
Nos últimos anos, a ciência tem procurado resolver este problema através de estratégias que visam a diminuir a secreção da proteína em causa, designada Fel d 1, recorrendo à biotecnologia. A mais avançada, já no mercado, passa por uma ração que reduz a quantidade de proteína presente na boca dos felinos, mas também há uma vacina em fase de testes e uma possível edição genética a ser investigada, com os mesmos propósitos, segunda a revista americana The Atlantic.
No caso da ração, o revestimento com um derivado de gema de ovo mostrou-se capaz de diminuir a produção da Fel d 1 em 47%, em média. Falta saber se isso se vai traduzir numa redução significativa das reações alérgicas, uma vez que tal vai depender da quantidade inicial produzida por cada gato e também do grau de sensibilidade dos donos.
Nos testes preliminares, realizados em cerca de uma centena de gatos, a vacina também oferece esperança aos que mais sofrem com as alergias. Uma vez inoculados, os gatos começam a produzir anticorpos porque o sistema imunitário a passa a identificar como se fosse um vírus, neutralizando-a de modo a reduzir os seus efeitos alérgicos.
Depois de devidamente testada, a vacina pode vir a enfrentar alguns obstáculos à sua introdução no mercado. Desde logo, implicará a ponderação ética das agências reguladoras dos medicamentos quanto a vacinar gatos para benefício dos humanos, além de que ninguém sabe ao certo qual a função (e relevância) da proteína Fel d 1 no organismo dos animais.
Mais complexa ainda, mas em desenvolvimento, é a alternativa com recurso à tecnologia de edição genética CRISPR. Numa primeira fase, os cientistas conseguiram eliminar, no laboratório, até 55% da quantidade da proteína presente em células de gato. Esta terapia envolve injeções periódicas para reduzir a produção da Fel d 1, mas está ainda longe de poder ser utilizada. Antes de mais, é preciso confirmar que a diminuição também se verifica ao nível das glândulas sebáceas e da saliva, já que a primeira experiência foi realizada em células do rim, e depois é necessário descobrir a fórmula correta para injectar num animal vivo.