Rita Bastos, 28 anos, e Manuel Laranjo, 29, esperavam o primeiro filho quando o País entrou em confinamento total por causa da pandemia, em março do ano passado. Sem lojas abertas, restou-lhes comprar roupa para o bebé pela internet. Um mundo amplo e disperso de comércio via redes sociais que não imaginavam existir. “Foi uma confusão gigante para fazer as pesquisas e encontrar o que queria, além de ficar sempre com medo de não receber as encomendas depois de as pagar, o que nunca aconteceu. O certo é que comprei toda a roupa para o meu filho através do Instagram”, conta Rita, sobre os seus dias de grávida à procura de garantir o bem-estar do novo membro da família.
Toda esta experiência acabou por tornar-se o embrião da ideia que haveria de transformar ainda mais a vida deste casal lisboeta: criar uma página na internet que concentrasse muitos pequenos negócios, com uma oferta variada de produtos singulares. Um autêntico centro comercial online mas sem a presença habitual das grandes marcas. Primeiro, em março deste ano, foi ela a despedir-se da empresa de gestão de imóveis onde trabalhava; três meses mais tarde, chegou a vez de ele abdicar da sua posição de consultor de mercados de capitais numa empresa de renome. Com a dimensão que o projeto ia ganhando, não demorou até perceberam que obrigaria os dois a uma dedicação a tempo inteiro.
Depois de terem amadurecido o conceito ao longo do ano anterior – de um blogue que agregasse roupa de criança, depois produtos gourmet, a seguir moda e bijuteria e ainda presentes originais ou personalizados, até uma plataforma capaz de suportar um vasto número de lojas que comercializassem tudo isto –, Rita e Manuel contrataram programadores informáticos para estudarem a viabilidade tecnológica do plano. Obtida a luz verde, faltava-lhes aliciar as marcas para aderirem e venderem os seus artigos através do Bou Market, como o batizaram os dois fundadores.
Aos primeiros contactos, em meados de maio, bastou uma semana para 50 lojas darem o sim. Um mês depois, a 16 de julho, dia em que a plataforma ficou disponível na internet, já eram mais de duzentas. E agora que, desde o início de outubro, as funcionalidades do sistema ficaram todas operacionais, este centro comercial que se percorre através de cliques já conta com mais de 370 lojas, superando até as do gigante Centro Comercial Colombo, em Lisboa (não chegam às 350).
“Os clientes têm no Bou Market os produtos que encontrariam num típico mercado de rua”, ilustra Manuel, acrescentando alguns exemplos de produtos ali disponibilizados, como o sabão artesanal, os sapatos de design português, as peças de joalharia únicas ou os copos de gin e os pauzinhos de sushi personalizados com o nome da pessoa. Obrigatoriamente, só cabem no Bou Market marcas portuguesas, ainda que certos artigos possam vir do estrangeiro, como as camisas tradicionais indianas da Saral, feitas com tecidos da Índia.

Um site para cada loja
Rita e Manuel já sentiram que o projeto tem pernas para andar, e alguns pequenos sinais reforçam essa convicção. Recentemente, no contacto com uma cliente, ela mostrou-lhes a sua satisfação por ter reencontrado no Bou Market uma marca de escabeche que costumava comprar numa loja perto de casa que fechou durante a pandemia.
A plataforma em si apresenta uma navegação muito simples. “O mínimo de cliques possível”, pedem aos programadores. As pesquisas podem ser feitas pela categoria das lojas – criança, bijuteria e jóias, presentes, gourmet e moda – ou pelo nome das marcas, sendo que cada uma tem um endereço eletrónico próprio dentro do site, com uma descrição sobre a marca a abrir. Tal e qual como se tivesse o seu espaço numa grande superfície comercial e a respetiva montra. Na página inicial da plataforma, surgem destacados produtos e lojas de forma aleatória e alternada.
Nestes primeiros meses de atividade, o casal fundador tem-se dedicado, sobretudo, a explicar aos lojistas como funciona a gestão da loja virtual de cada um, uma vez que são os próprios comerciantes que a controlam através de um backoffice, como é o caso, por exemplo, de uma senhora de 67 anos que faz e vende peças de croché e já aprendeu a mecânica da plataforma.
Não há uma “renda” fixa mensal paga pelos comerciantes para estarem na plataforma, da qual podem sair quando quiserem e por sua exclusiva vontade. A contrapartida para fazerem parte da comunidade, como lhe chamam Rita e Manuel, é assegurada por uma comissão de 17% sobre o valor de cada venda. Independentemente da loja em que compram, os clientes fazem sempre o pagamento ao Bou Market, que por sua vez, cerca de duas semanas mais tarde, paga às lojas já com o valor da comissão de 17% descontado. Quanto ao envio das encomendas, fica a cargo de cada loja, que recebem também as reclamações dos clientes, embora o Bou Market tenha acesso às mesmas e assuma o papel de intermediário na resolução desses casos.
No futuro, há o sonho de internacionalizar o conceito, sempre com marcas dos países onde ele for iniciado, mas para já o objetivo é cimentar o projeto em Portugal. Afinal, no mundo online não há limites físicos para o número de lojas e a ideia é fazer crescer o pequeno comércio. “O nosso lema é ‘Juntos somos mais fortes’”, remata Manuel Laranjo.