A forma como contamos não é instintiva, mas sim algo que aprendemos durante a infância. É por isso que, consoante a localização no globo, a forma de usar os dedos para contar se vai alterando. Por acaso já reparou de que forma inicia a contagem até dez ao usar os dedos? Começa pela mão direita ou pela esquerda? E que dedo levanta ou baixa primeiro?
Não é por acaso que os sistemas numéricos mais comuns têm 10 dígitos, tal como as nossas mãos, e que a palavra “dígito”, no sentido numeral, vem do latim digitus, que significa dedo ou dedo do pé.
Por exemplo, na maioria dos países da Europa, começa-se normalmente a contar com o polegar e termina-se com o mindinho. Enquanto que nos EUA, se começa a contar com o dedo indicador, terminando com o polegar. Em algumas zonas do médio oriente, como o Irão, começa a contar-se com o dedo mindinho e no Japão começa-se com a palma da mão aberta e vai-se baixando os dedos à medida que se conta.
“Os investigadores acreditavam que a contagem através dos dedos e, especialmente, a forma como o fazemos no Ocidente, é essencial para as crianças quando começam a aprender a contar e quando tentam entender o que são realmente os números. A questão é que existe diversidade cultural na forma de contar pelas mãos”, indicou Andrea Bender, professora de cognição, cultura e linguagem da Universidade de Bergen, na Noruega, à BBC.
Existem dois sistemas de contagem: o sistema linear, que significa que para cada novo número se adiciona um dedo novo e o qual se divide em unidimensional, como fazemos por exemplo em Portugal, e bidimensional, onde uma mão conta até cinco e a outra conta quantos segmentos de cinco já fizemos; e o sistema simbólico, que obriga a uma memorização de uma lista de símbolos formados com os dedos.
Na Índia, por exemplo, usam as linhas entre os segmentos dos dedos para contar, o que significa que uma mão inteira vale o número 20. Em algumas partes da África Oriental onde se fala Bantu, como na Tanzânia, usam ambas as mãos de forma simétrica, ou seja, o número seis é o dedo indicador, médio e anelar de ambas as mãos. Ainda mais impensável para nós é contar com os dedos dos pés, tal como acontece com o povo indígena Pame do norte do México.
Mas como já mencionado, o sistema simbólico é usado em algumas culturas. Na China, contam de um a cinco da mesma forma que os americanos, mas de seis a dez usam símbolos para representar os números. Por exemplo, o seis é estender o polegar e o mindinho, enquanto o dez é um punho fechado ou mostrar os dedos indicador e médio cruzados. Os romanos também eram conhecidos por utilizar este sistema, que lhes permitia contar até aos milhares.
“Sabemos um pouco sobre a diversidade existente na forma de contar, mas ainda não temos ideia de quão grandes podem ser as diferenças”, acrescentou a especialista. Os cientistas da área cognitiva ainda têm muito para investigar sobre a relação entre os gestos e a aprendizagem da linguagem, bem como as implicações cognitivas que diferentes formas de contar podem ter nos indivíduos.
Um olhar para a forma como as pessoas usam as mãos para contar pode ajudar a perceber-se de que parte do mundo alguém é, mas também pode ajudar a entender como se aprende o conceito de número em criança.