O famoso bebé do álbum “Nevermind” dos Nirvana está a processar a banda por alegada exploração sexual e pornografia infantil. Nu, dentro de água e a tentar agarrar um dólar que simboliza uma “isca” presa num anzol, é assim que aparece Spencer Elden, que teria na altura apenas quatro meses. Agora com 30 anos, Elden alega que os seus pais nunca assinaram um consentimento para que a foto fosse usada.
No total, Elden está a processar 15 pessoas, pedindo uma indemnização de pelo menos 150 mil dólares (cerca de 127 mil euros) a cada. No processo, estão incluídos os membros ainda vivos da banda (Dave Gronl e Krist Novoselic), os bens do falecido Kurt Cobain, representados pelas pessoas que o gerem e pela ex-mulher Courtney Love, o fotógrafo Kirk Weddle, bem como várias editoras discográficas.
“Esta imagem expôs as partes íntimas do corpo de Spencer e exibe lascivamente os órgãos genitais de Spencer desde que ele era um recém-nascido até aos dias de hoje”, pode ler-se nos documentos legais.
Segundo a lei norte-americana, não são consideradas pornografia infantil fotografias não-sexualizadas dos menores, como se pensava ser a fotografia em causa. No entanto, o advogado de Elden, Robert Lewis, alega que, ao ser acrescentada o dólar (que foi editado depois), faz com que o bebé pareça “um trabalhador sexual”, citam os meios de comunicação internacionais.
Nos documentos legais, pode ler-se que Elden alega que a sua identidade e nome legal estão para sempre associados à comercialização da exploração sexual que experienciou enquanto menor, que tem sido distribuída e vendida pelo mundo, desde que era um bebé até agora. Elden explica que tem sofrido e irá continuar a sofrer “danos vitalícios”, que incluem “sofrimento emocional extremo e permanente” e que têm interferido com “o seu desenvolvimento normal, progresso educacional e na obtenção de tratamento médico e psicológico”. Acrescenta, ainda, que a banda teria prometido tapar os genitais do bebé, e que esse acordo não terá sido cumprido.
Numa entrevista que deu em 2008, o pai de Elden, Rick, explicou que não tinha noção da extensão da sessão fotográfica. Weddle, o fotógrafo, era um amigo de família que lhe disse que estava a fotografar crianças e perguntou se queria ganhar 200 dólares ( 170 euros) e ter uma festa na piscina. “Tivemos uma grande festa na piscina e ninguém tinha ideia do que se estava a passar”, recordou à rádio NPR.
O processo tem sido recebido com surpresa depois de Elden ter recriado várias vezes a famosa fotografia, tanto em adolescente como em adulto, para celebrar o 10º, 20º e 25º aniversário do álbum. Nas recriações, Elden volta a ser fotografado dentro de água, utilizando, no entanto, calções de banho. Nas redes sociais várias são já as reações acusando-o de hipocrisia e de uma tentativa de ganhar dinheiro, apontando a ironia da situação, tendo em conta o simbolismo da capa: um bebé atrás de um dólar.
Elden tem marcado para 2022 sessões de autógrafos, apresentando-se como o “bebé” de “Nevermind” e numa entrevista em 2015 ao The Guardian admitiu que ter estado na capa tinha “sido uma coisa positiva” e lhe tinha aberto muitas portas. No entanto, em entrevistas mais recentes de 2016, Elden começou a mostrar o seu desagrado com a fotografia, com o facto de não conseguir comunicar com a banda e por não ter sido compensado monetariamente pela fotografia.
“Todas as pessoas envolvidas no álbum têm imenso dinheiro. Eu vivo com a minha mãe e conduzo um Honda Civic. É difícil não ficar chateado quando se sabe quanto dinheiro está envolvido. [Quando] vou a um jogo de baseball e penso: ‘Todas as pessoas neste jogo de baseball provavelmente viram o meu pénis pequeno de bebé’”, afirmou à revista Time.
“E se eu não estivesse confortável com o meu pénis a ser mostrado a todas as pessoas? Não tive realmente escolha”, afirmou, no mesmo ano, à revista GQ Austrália. Nessa entrevista falou, também, do problema que teria tido ao tentar comunicar com a banda para tentar convidá-los a participarem na sua exposição de arte.
Até ao momento desta publicação ,não havia qualquer reação por parte de representantes dos Nirvana nem das editoras discográficas.