As imagens a circular no Twitter, que mostram o Castelo de Ourém (reaberto no passado dia 27) com algumas das alterações feitas na reabilitação do monumento – escadas em lajes de betão e teto em zinco (metal) desencadearam uma série de reações, entre a troça, a revolta e a incredulidade. “Só faltou meterem painéis solares no telhado”, pode ler-se na página da conta “Vasco da Gamba”, que se diz “cego” perante o que vê. Na resposta a este “post” multiplicam-se as críticas… “Isto é real e foi permitido?”, “Gastar por gastar, colocavam umas escadas rolantes”, “Que triste descaracterizarem um monumento histórico desta forma”, são apenas alguns dos muitos comentários que se vão lendo.
A Câmara Municipal (CM) de Ourém esclareceu à VISÃO que “o material utilizado no processo de recuperação do pavimento que é, na sua generalidade, calcário, encontra-se no contexto Maciço Calcário Estremenho, que marca o território” e, em “alguns casos, nomeadamente na Torre Albarrã, a pedra preexistente foi reutilizada na recuperação, tendo beneficiado de um processo de limpeza antes de ser recolocada no seu lugar original”. Além disso, o teto em metal, alega a autarquia, “não causa qualquer impacto visual, está distante da observação dos visitantes no terreno e, desta forma, é garantido o protagonismo do monumento, sem que se façam interpretações erróneas sobre as coberturas que o edificado terá apresentado no passado”.
De acordo com o presidente da CM de Ourém, Luís Albuquerque (PSD/CDS), quando apresentou a ideia do projeto – parceria da CM de Ourém com a Fundação da Casa de Bragança (proprietária do Castelo e Paço dos Condes) e a Direção Geral do Património Cultural (entidade responsável pela gestão do património cultural em Portugal) -, em 2018, citado pelo jornal regional “Mirante”, a vontade de avançar com a obra, deveu-se à preocupação com a “deterioração do castelo”. “Este projeto vai dar uma nova vida ao castelo de Ourém e à cidade”, realçou, na altura.
Se para o público, pelo menos o que se está a manifestar na Internet, a intervenção é “horrível”, uma “monstruosidade” e “incompreensível”, para o arquiteto Luís Simões, da equipa técnica do projeto de reabilitação do Jardim da Manga, em Coimbra, nos anos 2008/2009 (e que não esteve envolvido neste trabalho), é uma questão de ponto de vista. E, no seu, trata-se de uma “melhoria do espaço arquitetónico existente e que melhore a capacidade de visitar”.
A CM de Ourém destaca precisamente o acesso a áreas antes inacessíveis, que só foi tornada possível graças à instalação de escadas de metal, permitindo “ao visitante uma interpretação correta e inequívoca do monumento e das suas fases de construção”.
A reabilitação “está bem feita, com bons métodos de recuperação”, e “dado que não havia forma de recuperar o existente, acabou por se alterar com um material distinto e duradouro”, considerou, ainda, o arquiteto, à VISÃO, destacando “a possibilidade de acesso a pessoas de mobilidade condicionada”. “Tem de haver rampas, o que não é compatível com uma construção de pedra”, acrescenta.
As alterações, sublinha Luís Simões,“devem ser muito bem ponderadas para não se ferir o que lá está e ser considerada uma boa obra, mas inevitavelmente altera-se o aspeto para que se consiga reabilitar”. Uma reabilitação de um monumento exige também que se ponha em cima da mesa a “equação custo benefício” e, muitas vezes, escolhem-se materiais modernos e duradouros que compensem o investimento. “Mantemos os espaços históricos para relembrar o passado e a contribuição da reabilitação é com o objetivo de manter essa atmosfera, para nos continuarmos a relembrar”, acrescenta Simões. E destaca que a palavra-chave aqui é “reabilitação” e não “reconstrução”.