Enquanto espera pela extradição para os Estados Unidos da América (EUA) para ser julgado pelo tráfico deste produto, o “arcebispo” conseguiu vendê-lo a 75 colegas de prisão e tem utilizado as redes sociais e a aplicação “Telegram” (de mensagens de texto) para convencer o mundo acerca da “Solução Mineral Milagrosa” (MMS na sigla em inglês), capaz, alega, de tratar a Covid-19, cancro, malária, diabetes e gastrites, entre muitas outras doenças. O “milagre”, neste caso, é feito à base de dióxido de cloro, um desinfetante industrial “geralmente utilizado para o tratamento de água industrial ou branqueamento de têxteis, pasta e papel”, como descreve a Food and Drug Administration (FDA), que alerta que a sua ingestão pode causar diarreia grave e vómitos que, por sua vez, podem baixar a tensão arterial com consequências fatais.
A partir da prisão, Grenon utilizou um telemóvel clandestino para entrar em contacto com o mundo exterior e aceder às redes sociais. Numa chamada telefónica realizada por Grenon, a que o The Guardian teve acesso, o “arcebispo” revelou que tinha conseguido o líquido de limpeza através de “canais secretos”, e que o produto químico estava a ser ingerido em grande quantidade.
Nos vídeos que continua a transmitir vídeos, o “arcebispo” manifesta a sua posição anti-vacinas contra a Covid-19 e encoraja os pais de crianças, com apenas seis anos de idade infetadas com doença, a darem banho aos seus filhos em produtos de limpeza líquidos, e engolirem outros em pó.
Além de Grenon, também aguardam julgamento, marcado para março do ano que vem, três dos seus filhos, acusados por um Tribunal de Miami.
Numa fase inicial da pandemia causada pelo coronavírus, o uso de produtos de limpeza domésticos para tratar a Covid-19 tornou-se um problema preocupante. Em abril do ano passado, o então presidente americano Donald Trump sugeriu que uma injeção de produtos desinfetantes constituía um potencial tratamento da doença. Na altura, de acordo com a Forbes, a Lysol – marca americana de produtos de limpeza e desinfeção – teve de emitir uma declaração a explicar que “sob nenhuma circunstância” os seus produtos desinfetantes “devem ser administrados no corpo humano (por meio de injeção, ingestão ou qualquer outra via).”
Em mensagens privadas recentes de Grenon, no Facebook, há uma em que refere à forma como a FDA fala do seu produto e questiona: “o que faria eu se fosse preso pelo sistema legal e impedido de ajudar as pessoas a serem saudáveis?”