No estudo publicado na revista científica Science, na sexta-feira, o objetivo era colocar os roedores à prova para, num percurso de obstáculos, testar a sua capacidade de saltar, tentando fazê-los falhar – algo que não aconteceu. A forma como ajustaram os movimentos, no ar, para evitar quedas potencialmente fatais foram semelhantes à prática de parkour, em que as habilidades e capacidades físicas são usadas para superar obstáculos e desafios.
De acordo com Nathan Hunt, que conduziu o estudo, “os esquilos têm uma combinação de características que os tornam muito interessantes: por um lado, a sua natureza acrobática e biomecânica, que, acompanhada pelos músculos fortes, permite-lhes executar saltos até várias vezes o seu tamanho; e, por outro lado, as suas capacidades cognitivas (inteligência, boa memória e criatividade para decidir)”.
A equipa científica, liderada por Lucia Jacobs, especialista em cognição animal, montou peças de madeira para simular ramos falsos – alguns mais firmes e outros mais instáveis – e utilizou amendoins para atrair os esquilos para vários locais, forçando-os a saltar de várias distâncias.
Perante duas opções – ou saltar da ponta do ramo (mais perto), mas com menos estabilidade, ou saltar do início do ramo (mais longe), mas com mais estabilidade -, os animais optaram pela primeira, especialmente quando os ramos eram menos rígidos. A flexibilidade dos ramos acabou por ser seis vezes mais importante na sua decisão do que a distância.
Além disso, os cientistas iam mexendo nos ramos nos quais os roedores deveriam aterrar, de forma a perceber como é que respondiam à mudança e, “inesperadamente, os esquilos utilizaram a superfície vertical do aparelho como uma possibilidade adicional”: em vez de saltarem diretamente de ramo em ramo, incorporaram a parede vertical que os segurava como impulso para “saltar” como se realizassem “uma manobra de parkour”, lê-se no estudo.
Os esquilos, que, com esta manobra, redirecionaram o impulso, ganhando forças que lhes permitissem alterar a sua velocidade e trajetória, demonstraram “a importância da cognição no desempenho físico de um animal selvagem em condições seminaturais”, salientou Jacobs.
“Interpretamos isto como mais um exemplo de pressão seletiva para a inovação desta espécie, que tão bem se adaptou a viver em habitats diversos, por exemplo, urbanos”, acrescentou.
De acordo com Hunt, a agilidade pode acontecer devido à seleção natural porque, quando os esquilos são caçados por aves de rapina, o seu voo pode depender de alguns centímetros, em vegetações instáveis. A rapidez, por outro lado, está relacionada com a seleção sexual, uma vez que os esquilos machos competem entre si para chegar às fêmeas durante intensas perseguições de acasalamento.
No que foi primeiro estudo a analisar a forma como estes roedores aprendem a saltar, os cientistas precisam ainda de concluir uma parte, para que fique completo (interrompida por causa da pandemia de Covid-19) – “como aprendem a saltar os recém-nascidos”. “A sinergia entre a gestão biomecânica da energia e a informação aprendida para saltar e aterrar, provavelmente determina a forma como saltam e o caminho através da folhagem”, concluiu Hunt.