Há precisamente um ano, o alemão Andreas Noa iniciava a sua grande caminhada pela costa portuguesa, alertando, durante 832 quilómetros, percorridos em 60 dias, para o lixo, especialmente plástico, que vai parar ao areal. “Isto não é sobre a limpeza de praias, é sobre a tomada de consciência de que a mudança de comportamentos se tornou necessária”, repete até à exaustão, aquele que é conhecido no Instagram como The Trash Traveler.
Neste ano, Andreas, a viver em Portugal desde 2018, partirá no dia 5 de agosto, na sua van azul, de 1982, para um novo périplo pelo País, sempre chamando a atenção para o lixo. Mas desta vez, não irá a pé, nem pisará as praias. Decidiu centrar a sua cruzada a montante, onde se faz a maior parte do desperdício que vai parar aos oceanos. À procura de soluções, de alterações no consumo e na forma de agir dos portugueses.
“Irei estar nas cidades perto da costa, para refletir sobre os nossos hábitos e a forma como eles têm impacto, mesmo que não vejamos isso a acontecer”, esclarece, a poucos dias de se meter à estrada, com ponto de partida marcado para 5ª feira, em Viana do Castelo. O exemplo máximo disso são as beatas, que as pessoas deitam para o chão, sem nunca pensarem que se trata de um pedaço de plástico que não se degrada e cujo destino final é o mar.
A Butt Hike, a caminhada das beatas em português, só terminará a 28 de setembro, em Tavira, depois de passar por 30 cidades. Em todas será exibido o documentário realizado com base na experiência do ano passado. Antes de deixar cada uma das paragens, Andreas acumulará as beatas apanhadas na sua carrinha – haverá concursos para premiar os melhores recoletores durante os meses de agosto e setembro.
Quando o The Trash Traveler desembarcar na cidade seguinte, elas serão mostradas – através de instalações artísticas na rua – para que a consciência acorde e se perceba a quantidade de beatas atiradas para o chão. No final da aventura, Andreas logo pensará numa forma inteligente de reciclar estes resíduos ou transformá-los num outro produto.
Para o ajudar neste périplo, Andreas chamou todas as organizações não governamentais ligadas ao ambiente, que se juntaram a si no ano passado. Desta vez, quer alargar ainda mais o espectro, espalhando a palavra para integrar outras associações, agentes individuais e comércio consciente, por exemplo.
Estas ações em cidades como Aveiro, Nazaré, Lisboa, Sines ou Sagres, serão complementadas pelos já tradicionais vídeos, sonorizados com o seu ukulele e animados pela sua voz, em inglês. Desta vez, as imagens serão do tipo roteiro turístico, mostrando os cenários mais bonitos, manchados pelo senão das beatas. Em Lisboa, ele já o fez e só apetece fechar os olhos de cada vez que esses detritos estragam cada um dos bilhetes postais da cidade.