O responsável participou na quarta-feira numa reunião com a secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira, no quadro do contributo das associações representativas do setor para o relatório elaborado pelo Grupo de Museus do Futuro, e a criação de uma estratégia para o setor nos próximos dez anos.
Contactado pela agência Lusa sobre a reunião, o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM) avaliou como “positiva e importante” a elaboração do relatório e de uma estratégia para a próxima década, e também o “diálogo mantido entre a tutela e os representantes do setor”.
Contudo, alertou, “o problema continua a ser a falta de recursos humanos e financeiros, que poderá ser colmatada com o Plano de Recuperação e Resiliência [PRR], mas é necessária uma intervenção urgente nos próximos dois a três meses para resolver os problemas mais graves”, acrescentando que a iniciativa “passa por uma decisão política”.
“Tem de haver uma consciencialização do Ministério da Finanças para os gravíssimos problemas de falta de recursos humanos e de obras nos museus nacionais, e tem de haver uma profunda compreensão que o património móvel e imóvel do país está em perigo”, urgiu o responsável da APOM.
João Neto fez um apelo para que aquela pasta do Governo “esteja muito atenta e atue” nos casos mais urgentes, “não apenas nos museus, mas também em palácios e monumentos” nacionais do país.
“Quem assina os cheques são duas pessoas: o primeiro-ministro [António Costa] e o ministro [de Estado e] das Finanças [João Leão]”, adicionou o presidente da APOM, entidade criada em 1965 para representar os profissionais de museologia e promover boas práticas nesta área.
Nos casos carência de recursos humanos, um dos museus que já anunciou o encerramento de salas no percurso expositivo por falta de vigilantes foi o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
O museu tem atualmente um aviso aos visitantes no seu sítio ‘online’ sobre “limitações no percurso expositivo permanente entre os meses de junho e setembro”, uma situação que se repete há vários anos.
Contactada pela Lusa sobre os problemas que os museus e monumentos estão a enfrentar atualmente nestas vertentes, o gabinete do diretor-geral do Património Cultural, Bernardo Alabaça respondeu, por mensagem, que, “à falta de vigilantes em museus, monumentos e palácios na dependência da Direção-Geral do Património Cultural informa-se que está esta direção-geral a desenvolver todos os esforços para, no âmbito das suas competências e possibilidades, ultrapassar os constrangimentos amplificados pelo período de férias que se iniciou”.
Relativamente às necessidades de obras no património cultural apontadas pelo presidente da APOM, a DGPC adiantou: “As intervenções previstas no quadro do PRR são compostas por uma fase inicial de projeto, seguida de empreitada, encontrando-se definido que a globalidade da respetiva execução deverá decorrer entre 2022 e 2025”.
No início de junho, no parlamento, o PS reconheceu que a “escassez crónica de recursos humanos” nos museus e monumentos nacionais apontada pelo relatório do Grupo de Projeto Museus do Futuro era uma situação que deveria ser “resolvida com urgência”.
“A questão de fundo do relatório [divulgado no verão de 2020] é a escassez crónica de recursos humanos que se fazem sentir em várias áreas [dos museus e monumentos nacionais]. O PS reconhece essa carência que o Grupo Museus do Futuro inclui nas propostas, e considera que tem de ser resolvida com urgência”, declarou a deputada socialista Rosário Gamboa, numa audição realizada na Comissão de Cultura e Comunicação da Assembleia da República.
A audição de responsáveis pelo relatório elaborado pelo Grupo Museus do Futuro, decorreu na sequência do requerimento do Grupo Parlamentar do BE, para apresentação do relatório “Museus no Futuro”, resultado de uma iniciativa do Governo para gerar um conjunto de propostas a implementar na próxima década, no setor dos museus e monumentos tutelados.
Em vídeoconferência estiveram os dois investigadores que lideraram o projeto, Clara Camacho e José Manuel Varejão, tendo ambos apontado a falta de recursos humanos como um dos mais prementes desafios que os museus e monumentos nacionais enfrentam, a par da articulação com a ciência, e o cumprimento da sua missão com autonomia.
A falta de recursos humanos tornou-se o tema mais falado na audiência: “É necessário um programa de emergência para a falta de recursos humanos nos museus e monumentos nacionais”, apelou Clara Camacho aos deputados, dando voz a um conjunto de 50 conclusões da equipa, que defende ainda o rejuvenescimento das equipas dos equipamentos culturais nacionais.
“A questão dos recursos humanos é uma questão maior dentro das fragilidades e problemas que encontrámos”, vincou a especialista, na altura, no parlamento.
Respondendo a várias questões dos deputados, Clara Camacho disse que, após a entrega do relatório à tutela, em novembro de 2020, “realizaram-se algumas reuniões e tem havido desenvolvimentos”, nomeadamente a criação de bolsas de investigadores, e na área da digitalização, com o sistema de bilhética ‘online’, já em funcionamento.
Destacou ainda – dentro da meia centena de propostas do relatório – a da criação de um novo instituto dos museus, regressando ao antigo modelo de separação relativamente ao património cultural, que atualmente se une dentro da DGPC.
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