Há vários anos que os cientistas têm tentado fazer crescer mamíferos fora do corpo das suas mães. Alguns estudos anteriores, já o tinham provado possível, mas apenas em embriões numa fase bastante inicial, que só sobreviveram por curtos períodos de tempo, não chegando a desenvolver-se. Noutros casos, fetos já em estado bastante avançado foram removidos do útero das mães quando já tinham os órgãos formados. Este foi o caso de um estudo realizado, em 2017, pelo Hospital Pediátrico de Filadélfia, nos Estados Unidos, que conseguiu terminar a gestação de fetos de carneiros num útero artificial. No entanto, quando estes foram retirados do útero das mãe, já se encontravam com os órgãos completamente desenvolvidos.
Agora, pela primeira vez, uma equipa de cientistas do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, liderados por Jacob Hanna, um biólogo israelita especialista em células estaminais, conseguiu desenvolver com sucesso embriões de rato até uma fase avançada – em que o feto já tinha coração a bater, cérebro e membros – num útero artificial. O estudo já foi aceite para publicação na Nature.
“Tirámos os embriões dos ratos da sua mãe no quinto dia de gestação, quando eles são apenas 250 células, e depois colocámo-los numa incubadora, do 5º até ao 11º dia”, explicou o investigador, em entrevista ao The Times of Israel.
A gestação de um rato é de apenas 19 dias, sendo que com 11 dias já podem ser considerados um feto completamente desenvolvido. Têm todos os seus órgãos, bem como os membros, o sistema circulatório e nervoso. Também os seus pequenos corações já se encontram a bater a 170 pulsações por minuto. “Ao 11ºdia já têm o seu próprio sangue, o coração a bater e o cérebro completamente desenvolvido. Qualquer pessoa que os visse diria que são claramente o feto de um rato com todas as características do mesmo”, congratula-se o cientista.
E embora esteja a desenvolver este método há sete anos e já tenha testemunhado centenas de ratos a desenvolverem-se desta forma, Hanna continua a ficar “espantado”.
O método consiste em colocar os embriões, retirados do útero materno ao quinto dia, em placas de culturas, onde passam dois dias antes se derem transferidos para uma incubadora com um líquido especial a simular o líquido amniótico, que contém soro sanguíneo extraído do cordão umbilical de humanos. A incubadora, construída especialmente para a investigação, controla a concentração de gás, pressão e temperatura.
Enquanto as células flutuam no líquido, recebem dele todos os nutrientes, hormonas e açúcares de que precisam, imitando, assim, a fase inicial do desenvolvimento do embrião no corpo da mãe. “A chave do nosso sucesso foi ter desenvolvido um sistema especial de incubação, em que o embrião fica submerso numa garrafa com líquido, e a garrafa fica a girar para que o embrião não se cole em nenhum dos seus lados. Esta incubadora cria todas as condições necessárias para que o embrião se desenvolva”, explica o biólogo.
Jacob Hanna espera que, no futuro, seja possível levar os ratos até ao fim da gestação.
Esta técnica permite estudar a formação dos órgãos dos mamíferos, sem ter de recorrer a imagens do interior do útero, e que pode, assim, facilitar os avanços médicos.