Já todos ouvimos falar de memória seletiva. Em como, por exemplo, certos acontecimentos ficam gravados no nosso cérebro enquanto outros são liminarmente descartados. Mas não foi esse o processo que levou os participantes num estudo realizado na Universidade e Centro de Investigação de Wageningen, nos Países Baixos, a serem mais precisos a encontrarem de novo os alimentos mais calóricos que lhes tinham sido dados a provar numa degustação.
Por mais marcante e doce que tenha sido o sabor dos brownies, tudo se deveu à memória espacial, demonstradamente mais eficiente a localizar alimentos ricos em energia. Uma característica que Rachelle de Vries, aluna de pós-doc em nutrição e saúde humana, que liderou a equipa, acredita ter garantido que os nossos antepassados caçadores-coletores pudessem priorizar a localização de uma nutrição confiável – o que acabou por lhe dar uma vantagem evolutiva.
No estudo publicado esta semana no jornal científico online Scientific Reports, 512 participantes percorreram uma sala onde estavam oito amostras de alimentos ou oito discos de algodão impregnados com aroma de comida. Seguindo sempre um caminho fixo, os participantes iam provando os diferentes alimentos ou cheirando o algodão, avaliando o seu gosto. Quatro das amostras eram de alimentos altamente calóricos, incluindo brownies e batatas fritas, e as restantes quatro, que incluíam tomates-cereja e maçãs, eram pobres em calorias.
Após esta prova de degustação, os participantes foram convidados a apontar num mapa da sala a localização exata de cada uma das amostras. Os investigadores observaram, então, que eles foram quase 30% mais precisos a mapear os alimentos de alto teor calórico em comparação com os de baixo teor calórico. E isto independentemente de terem gostado mais ou menos dos seus sabores ou aromas.
Segundo os autores do estudo, estes resultados sugerem que as mentes humanas continuam a abrigar um sistema cognitivo otimizado para a procura de alimentos com eficiência energética em habitats alimentares erráticos do passado, e destacam as capacidades frequentemente subestimadas do olfato humano.
Ter uma boa memória espacial terá feito toda a diferença para os primeiros humanos que resistiram às mudanças climáticas da época do Pleistoceno, acredita Rachelle de Vries. “Quem se lembrava onde e quando os recursos alimentares de alto teor calórico estariam disponíveis provavelmente teve uma vantagem de sobrevivência ou de boa forma.”