No início da pandemia, vários especialistas alertaram para a possibilidade de o tipo de sangue das pessoas influenciar a sua vulnerabilidade à infeção pelo SARS-CoV-2.
Inicialmente, acreditava-se que o sangue de tipo A aumentaria a probabilidade de ser contaminado e de ficar gravemente doente.
Porém, nos últimos meses, esta informação tem vindo a ser contrariada.
Depois de analisarem milhares de doentes com Covid-19, os investigadores do Massachusetts General Hospital e do Columbia Presbyterian Hospital, ambos nos EUA, não encontraram evidência de uma forte correlação entre o tipo sanguíneo dos doentes e a severidade da infeção.
Os cientistas afirmam que o sangue de tipo A não aumenta a suscetibilidade ao vírus. Admitem, apenas, uma ligeira menor probabilidade de ser infetado quando se pertence ao tipo sanguíneo O, mas o efeito é tão reduzido que os especialistas não o consideram relevante.
“Ninguém deve pensar que está protegido” sublinhou o cientista Nicholas Tatonetti ao jornal The New York Times.
Ao rever os dados clínicos de 7 770 pessoas que testaram positivo para o vírus, o investigador da Universidade de Columbia detetou, até, que as pessoas do grupo sanguíneo A tinham um menor risco de serem ligadas ao ventilador, ao contrário das do tipo AB. No entanto, este resultado não foi considerado fiável devido à reduzida amostra de doentes AB. Por agora, ainda só foram publicados resultados preliminares.
O estudo conduzido pelo Massachusetts General Hospital chegou a conclusões semelhantes. Neste caso, os investigadores também identificaram um ligeiro menor risco de infeção nas pessoas de tipo O, mas não descortinaram qualquer correlação entre o grupo sanguíneo e a necessidade de ventilador ou o aumento da mortalidade.
O grupo sanguíneo pode ser útil para desvendar a natureza da doença, uma vez que influencia a forma como o sistema imunitário reage às infeções
A cirurgiã vascular que coordenou o estudo, Anahita Dua, considera que o tipo de sangue não deve ser visto como um fator de risco quando as pessoas testam positivo para a Covid-19.
Mesmo que o grupo sanguíneo não determine o tratamento da Covid-19, como parecem indicar estes estudos, ele pode ser útil para desvendar a natureza da doença, uma vez que o tipo de sangue influencia a forma como o sistema imunitário reage às infeções – os anticorpos produzidos pelo tipo A, por exemplo, são diferentes do B.
O risco de coagulação também varia de acordo com o grupo sanguíneo. Apesar de, inicialmente, a doença ser vista como uma patologia exclusivamente respiratória, o seu impacto no corpo humano tem-se mostrado muito mais vasto.
Uma das consequências da doença mais documentadas é a formação de coágulos sanguíneos, um mistério que a investigação da correlação entre o tipo de sangue e o coronavírus pode ajudar a desvendar.