Um dia normal de Ayyad era um dia cheio de movimento. Mesmo estando a gerir um restaurante e bar e a ajudar no negócio de família, encontrava sempre tempo para o desporto. Às maratonas e corridas de obstáculos em que competia juntavam-se as aulas semanais de boxe e basquetebol. Mas, um dia, a sua energia começou a desvanecer. As mais simples tarefas começaram a exigir de si um enorme esforço – subir escadas, cozinhar e até falar eram quase como testes à sua resistência.
Ao cansaço adicionaram-se espirros e tosse. Acabou por apareceu febre alta, a que se juntaram falta de apetite e dificuldade em respirar. Ayyad pensou estar com gripe. Apesar da sua relativa tranquilidade, seguiu o conselho de um médico seu amigo e foi ao hospital. No dia 15 de março apanhou um Uber para o Hospital Sibley Memorial, em Washington. Foi aí que se confirmou o pior, os testes deram positivo para influenza A e coronavírus.
Inseguro do que futuro lhe reservara, Ayyad ligou a um amigo para que este tomasse conta do seu cão. “Não sabia o que estava prestes a acontecer. Se aquela era a última vez que ia falar com ele. Se estava prestes a morrer.” Os familiares viviam numa ânsia por não saberem se o iam perder sem terem a oportunidade de se despedirem.
À medida que o tempo passava, a sua condição ia agravando-se. Uma vez ligado a um ventilador, foi transferido para o Hospital Johns Hopkins em Baltimore, onde foi colocado em coma induzido, uma decisão comum em casos graves de Covid-10, visto que o tubo na garganta dos pacientes faz com que se torne desconfortável a simples ação de respirar, havendo uma sensação de quase sufocamento.
Após acordar do coma que durou 25 dias, Ayyad não se reconhecia. A sua figura musculada e robusta havia sido substituída por um corpo enfraquecido que revelava as dificuldades por que tinha passado. “Acordei e olhei para os meus braços, para as minhas pernas, e os meus músculos tinham desaparecido.” contou ao canal televisivo CNN. “Quase que entrei em pânico. Onde estão as minhas pernas? Para onde foram as minhas pernas?”
Quando saiu do hospital a 22 de abril, Ayyad tinha perdido mais de 25 quilos. Para além do seu estado debilitado tinha ainda um coágulo sanguíneo no seu braço esquerdo e lesões nos pulmões e coração.
A recuperação está a ser lenta demorada, mas Ayyad está motivado a alcançar a sua aparência física e a sua saúde pré-Covid. Teve de reaprender a comer, a andar e até a falar.
“Estou a melhorar todos os dias. Estou a comer muito e a ganhar o meu peso de volta.”
A médica de cuidados intensivos pulmonares do Hospital John Hopkins Sandra Zaeh diz ser ainda uma incógnita o porquê da gravidade do caso de Ayyad. “Não havia qualquer razão para ele estar em maior risco que qualquer outra pessoa. Mas podem existir fatores que ainda não compreendemos.”
Ayyad espera estar totalmente recuperado até setembro, de tal forma que já voltou aos seus treinos. Na sua rede social Instagram, tem partilhado as suas corridas e aulas de box numa aventura que apelidou de Path2Recovery (Caminho para a Recuperação).
Embora esteja a voltar à normalidade, Ayyad continua preocupado com o vírus que tanto o afetou. “As pessoas estão a agir como se tivesse acabado. Não acabou. Usem as vossas máscaras. Não se reúnam em grandes grupos. Cuidem de vocês e das pessoas à vossa volta”, disse.