Silêncio. Silêncio junto às Docas de Alcântara, enquanto o grupo, maioritariamente composto por homens, maioritariamente vestido de preto, se adensa. Nunca passarão muito da centena de pessoas, mas mais tarde, a subirem a avenida D. Carlos I, em Lisboa, sem darem nem um ai por trás das máscaras, hão de causar impacto.
Por agora, ainda esperam os que vêm de longe – há quem tenha feito 400 quilómetros para aqui estar -, entre telefonemas, conversas e cigarros queimados ao vento. Meia dúzia de polícias vigiam-os à distância, abrigados na sombra de uma árvore, que o sol hoje escalda.
Pelas duas e meia da tarde, estes profissionais ligados aos bares e discotecas entram todos numa caravana de carros, com a polícia pelo meio, e dirigem-se a Santos. Perto da Assembleia da República, o aparato das forças de segurança é grande. Mas esta gente vem calada e em paz, sem apetência para confusões.
Em frente à casa da democracia, é tudo combinado com as televisões, que se acotovelam para entrar em direto. As coisas não são como dantes, já se sabe, e tudo passa pela imagem. Fala José Gouveia, da Associação de Discotecas de Lisboa, e depois passa a palavra a Alberto Cabral, grande empresário do norte e organizador deste pequeno comício silencioso (foi ele quem criou o movimento “o silêncio da noite”, que se tem batido por uma solução para o setor). “É a primeira vez que me vejo numa coisa destas, sinto-me desconfortável”, há de confessar mais tarde, contando que esta foi a primeira vez que esteve numa manifestação, ainda por cima convocada por ele.
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Correu tudo lindamente, pode dizer-se – não fora o hino nacional que alguns teimaram em entoar no final, e que causou algum desconforto a José Gouveia, obrigando-o a afastar-se para se demarcar de algum desacato. “Só viemos aqui pedir o fim do silêncio e entregar as nossas chaves para o governo poder abrir-nos as portas”, resume.
De facto, uma dezena de empresários depositaram o seu molho de chaves numa cesta pousada junto ao gradeamento da Assembleia, num ato simbólico. Houve quem se esmerasse e fizesse uma enorme chave em esferovite ou uma cruz de madeira preta, em jeito de funeral. E no final, palmas, mais outra salva de palmas. E toca a dispersar, que a mensagem já foi passada. Também elaboraram um manifesto, que foi entregue na agência Lusa, para que se espalhe por todos os meios de comunicação social.
Nele pedem, essencialmente, que lhes deem uma data de reabertura, as respetivas condições sanitárias, uma redução do IVA para a taxa mínima durante dois anos e a isenção de TSU por 12 meses. “A falta de medidas de apoio levará certamente à insolvência a curto prazo de grande parte do setor, empurrando para o desemprego milhares de colaboradores diretos e indiretos, num total estimado de 140 mil pessoas”, lê-se no manifesto, em jeito de conclusão.
O que dizem as boas práticas?
Até agora, mais de 100 dias passados desde o fecho de portas voluntário, ninguém falou com o setor. Na verdade, há o problema de ele não ter uma representação, como os restaurantes ou hotéis, mas a AHRESP, Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, tem desempenhado esse papel – não só conseguiu uma reunião inconclusiva com o secretário de Estado do Comércio como elaborou um guia de boas práticas que foi entregue na Direção Geral de Saúde na terça-feira, 16.
Nele defende que os clientes devem fazer uma reserva prévia antes de irem a bares ou a discotecas sempre que possível. E os espaços de diversão noturna devem utilizar “preferencialmente espaço exteriores, como esplanadas”, lê-se no documento da AHRESP. Além da desinfeção constante, os colaboradores e clientes são aconselhados a usar máscara.
As pistas de dança das discotecas devem ter áreas de 2,25 metros quadrados marcadas no chão, para assegurar a distância física entre os clientes, conseguindo, porém, movimentarem-se.
Perante estas normas agora sugeridas, só há que aguardar pelas cenas dos próximos capítulos.