Em tempo de confinamento em casa, a Agência Espacial Europeia (ESA), que opera o telescópio com a congénere norte-americana NASA, desafiou os entusiastas das redes sociais a partilharem uma fotografia ou um vídeo de um bolo de aniversário, feito com os ingredientes tradicionais, como farinha e ovos, ou com ingredientes mais criativos, como papel, peças Lego ou barro.
Devido à pandemia, os eventos públicos programados pela ESA e NASA para assinalar a data foram adiados.
Em 02 de janeiro, quando a doença respiratória aguda ainda não tinha atingido as proporções pandémicas, a ESA divulgou um calendário digital para 2020, com 12 imagens captadas pelo telescópio, uma para cada mês do ano, que resultou de uma iniciativa lançada em setembro de 2019 nas redes sociais.
O telescópio, que começou a ser construído em 1979, foi lançado para o espaço em 24 de abril de 1990, a bordo de um vaivém Discovery.
O lançamento do engenho, concluído em 1985, foi atrasado devido à suspensão do programa de vaivéns da NASA, depois da explosão, em 1986, de um vaivém Challenger, que vitimou os sete astronautas que seguiam no veículo.
Um outro revés surgiu pouco tempo depois do lançamento.
Em 25 de junho de 1990, dois meses após o telescópio ter sido colocado na órbita da Terra, a 569 quilómetros de altitude, as primeiras imagens difundidas confirmaram que o espelho principal, de 2,4 metros de diâmetro, tinha um defeito que tornava as imagens desfocadas.
A anomalia foi corrigida com cinco pares de espelhos óticos que foram instalados no telescópio em 1993 e, mais tarde, substituídos por dispositivos mais modernos.
Ao longo da história do Hubble, os equipamentos foram, aliás, reparados ou substituídos em diversas operações de manutenção conduzidas por astronautas.
Há cerca de dois anos, em outubro de 2018, as observações estiveram suspensas durante três semanas devido a uma avaria num dos giroscópios de reserva, que teve de ser calibrado. Os seis giroscópios do Hubble, que o guiam numa determinada direção nas observações, tinham sido substituídos em 1999 e 2009.
Apesar da provecta idade para um telescópio, o Hubble não tem data de morte anunciada, assim continuem a funcionar os instrumentos, muito embora se perfile um sucessor, o telescópio espacial James Webb, com lançamento previsto para 2021, após vários adiamentos.
O Hubble, que permite estudar o espaço sem as distorções causadas pela atmosfera terrestre, tem o tamanho aproximado de um autocarro: mede 13 metros e pesa 11 toneladas. Na órbita da Terra, demora 96 minutos a dar uma volta completa ao planeta.
O nome do telescópio foi atribuído em homenagem ao astrónomo norte-americano Edwin Hubble (1889-1953), que demonstrou a existência de outras galáxias, além da Via Láctea, e que o Universo se expande, sabe-se agora de modo acelerado.
Uma das imagens mais famosas registadas pelo telescópio, em 1995, é a Nebulosa da Águia, mais conhecida por Pilares da Criação, por ser um berçário de estrelas.
O portefólio inclui imagens de colisões de dois asteroides ou do cometa Shoemaker-Levy 9 com o planeta Júpiter, de uma explosão de raios-gama numa galáxia distante e das luas de Plutão.
O Hubble foi, em 2014, o primeiro telescópio a observar a desintegração de um asteroide, tendo dado a conhecer o mapa mais detalhado da atmosfera de um planeta fora do Sistema Solar.
Graças ao Hubble foram descobertas, em 2012, sete galáxias primitivas que se formaram há mais de 13 mil milhões de anos, quando o Universo dava os seus primeiros passos.
Em 2013, mostrou vapor de água a despontar da superfície da Europa, gerando o interesse da comunidade científica e das agências espaciais por esta lua de Júpiter.
O investigador Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, destaca ainda, como feitos do telescópio, “a primeira evidência da existência de um enorme mar subterrâneo na lua Ganimedes, também de Júpiter”, o maior planeta do Sistema Solar onde uma “enorme tempestade”, conhecida pelo “grande olho vermelho” e onde “cabem várias vezes o planeta Terra”, está a “começar a contrair e, eventualmente, irá desaparecer”.
“Ao observar Marte ao longo do tempo, foi possível acompanhar a transformação do aspeto da superfície marciana ao longo das estações do ano”, com a calote polar a alternar entre os hemisférios Norte e Sul “à medida que o inverno marciano migrava de um hemisfério para o outro”, acrescentou à Lusa o também docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especialista em sistemas planetários.
Para Pedro Machado, “o Hubble foi essencial para o advento de mais alguma disrupção no conhecimento planetário”, tendo-se “revelado fundamental para o desenvolvimento da investigação” em sistemas planetários, incluindo o Sistema Solar.
O telescópio, equipado com vários instrumentos científicos, câmaras, computadores, espetrógrafos e sensores, permite observar corpos celestes na luz visível, ultravioleta e infravermelha (esta última em porções mais reduzidas).
A capacidade de observação na radiação infravermelha será otimizada com o telescópio espacial James Webb, que terá um espelho maior, de 6,5 metros de diâmetro, e instrumentos mais avançados.
Ao olhar melhor através das nuvens de gás e poeira, o James Webb possibilitará estudar a formação de estrelas e aumentar o conhecimento sobre o Universo primitivo, aquele para o qual o Hubble não abriu todas as janelas.
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