Não é de hoje a ideia de que os cromossomas sexuais podem explicar o facto de as mulheres viverem, em média, mais tempo do que os homens. Nos mamíferos, em que as fêmeas têm geralmente dois cromossomas X e os machos XY, eles tendem a ter uma vida mais curta. Nas aves, em que as fêmeas têm um cromossoma Z e um W, e os machos dois Z, são eles que apresentam a maior longevidade. Partindo da teoria do “efeito protetor” do segundo X das mulheres, um novo estudo veio agora demonstrar que esta é uma tendência generalizada no reino animal.
As investigadoras Zoe Xirocostas, Susan Everingham e Angela Moles, da Escola de Ciências Biológicas, da Terra e do Ambiente da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, analisaram toda a literatura académica disponível sobre os cromossomas sexuais e a expectativa de vida de 229 espécies de animais, desde insetos a peixes e mamíferos. Apenas deixaram de lado as espécies hermafroditas e aquelas cujo sexo é influenciado por condições ambientais, como é o caso das tartarugas verdes.
O objetivo do estudo, agora publicado na revista Biology Letters, era estabelecer se havia um padrão de um sexo a sobreviver mais do que outro no reino animal. E os resultados demonstram que indivíduos com dois cromossomas sexuais iguais vivem 17,6% mais, em média, do que aqueles que têm cromossomas diferentes ou apenas um.
“Analisámos os dados da vida útil não apenas de primatas, outros mamíferos e aves, mas também de répteis, peixes, anfíbios, aracnídeos, baratas, gafanhotos, besouros, borboletas e mariposas. Descobrimos que, em toda essa ampla gama de espécies, o sexo heterogamético [XY] tende a morrer mais cedo do que o sexo homogamético [XX]”, escreve Zoe Xirocostas no relatório. “ Ou seja, a teoria do ‘X desprotegido’ está certa.”
A teoria diz que o cromossoma Y, sendo menor do que o X, é incapaz de o substituir quando este sofre mutações que podem expor o indivíduo a problemas de saúde. Um risco que não existe no caso do sexo homogamético, em que um cromossoma X saudável pode substituir outro X.
“O nosso estudo sugere que o ‘X desprotegido’ é um fator genético que pode influenciar a expectativa de vida, mas muitos fatores externos podem influenciar a longevidade de diferentes maneiras”, nota a mesma investigadora. “As pressões para viajar para longe para encontrar um parceiro, estabelecer um território e competir com outros membros do seu sexo não são vistas com frequência em mulheres”, exemplifica.
Zoe Xirocostas, Susan Everingham e Angela Moles lembram ainda que existem outras possíveis explicações para a diferença da longevidade. É por exemplo o caso do estrogénio, que parece proteger as extremidades dos cromossomas contra os danos.