Paul Ekman, psicólogo americano pioneiro no estudo das expressões e emoções, durante as décadas de 1960 e 1970, investigou a reação e a percepção de várias comunidades a diversos sentimentos, expressados através do rosto e concluiu que existem sete expressões universais: a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, a surpresa, o nojo e o desprezo.
Um artigo da revista Nature analisou vários estudo que tentaram compreender se as expressões faciais representam ou não os sentimentos dos seres humanos.
Durante décadas, a teoria de Ekman não foi contestada, mas, já no século XXI, vários psicólogos e cientistas começaram a questioná-la.
Foi o caso de Rachael Jack e de outros psicólogos, da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, que, em 2018, analisou as expressões faciais de 80 pessoas do Ocidente e do leste da Ásia. Desta observação resultou o estudo “Distinct facial expressions represent pain and pleasure across cultures” (“Expressões faciais distintas representam a dor e o prazer em diferentes culturas”) que demonstra que os ocidentais e os orientais têm um conceito semelhante da expressão da dor, mas apresentam ideias diferentes sobre as expressões alusivas ao prazer. As duas culturas associam à dor o movimento de franzir das sobrancelhas, enrugar o nariz, abrir a boca e levantar as bochechas. No entanto, os ocidentais assumem como expressão de prazer os olhos e a boca expressivamente bem abertos, enquanto que as comunidades orientais associam a esta expressão o sorriso com o sobressair das sobrancelhas e os olhos fechados. Esta conclusão contraria a teoria de que as expressões faciais são um conceito universal.
Numa primeira fase, outra investigadora, Lisa Feldman Barrett, psicóloga na Universidade de Northeastern em Boston, confirmava a teoria de Ekman, assumindo que as expressões faciais tinham movimentos característicos bem definidos. Muitos técnicos da área discordavam com Lisa, pedindo uma revisão do seu estudo. Assim, em 2019, Barrett publicou o estudo “Emotional Expressions Reconsidered: Challenges to Inferring Emotion From Human Facial Movements” onde apresenta uma abordagem totalmente diferente e extrema do estudo que tinha feito anteriormente: não existe nenhuma forma – ou há pouca probabilidade – de ter a certeza do estado emocional de uma pessoa apenas analisando a sua expressão facial. Carlos Crivelli, da Universidade de Montfort, partilha da mesma conclusão após ter estudado as emoções com os habitantes das ilhas de Trobriand na Papua-Nova Guiné.
No entanto, segundo Jessica Tracy, psicóloga da Universidade da Colúmbia Britânica, estas teorias são demasiado extremas. A profissional da área assume que apesar de haver variações entre culturas, a teoria de Ekman não está totalmente errada: a maioria das pessoas consegue reconhecer o estado de espírito de uma pessoa se esta estiver a sentir raiva. Tracy, em conjunto com outros psicólogos, no artigo “Mapping the Passions: Toward a High-Dimensional Taxonomy of Emotional Experience and Expression” propõe que em vez de considerar, por exemplo, a felicidade como uma emoção única, deve ser uma categoria emocional. Isto é, a felicidade estende-se pela alegria, o prazer, a compaixão e o orgulho, e assim, ter um campo mais alargado de significação de expressões.
A incapacidade de descodificar as emoções através das expressões faciais surge também pelo facto de o rosto não ser o único fator de análise. O movimento corporal, a personalidade e o tom de voz são também importantes para entender e avaliar os sentimentos do outro.