Tomar medicamentos durante o período de gestação obriga sempre a grávida a pedir aconselhamento médico. Durante o primeiro trimestre esses cuidados devem ser redobrados. Um estudo publicado esta semana na British Medical Journal concluiu agora que tomar antibióticos, nomeadamente macrolídeos, pode afetar o normal desenvolvimento do feto nos primeiros três meses de gravidez.
Os antibióticos macrolídeos são os mais prescritos nos países ocidentais, sobretudo para os casos em que os pacientes são alérgicos ou têm algum tipo de intolerância à penicilina. São geralmente aconselhados para tratar infeções como pneumonia, bronquite, doenças urinárias, cutâneas e sexualmente transmissíveis.
O estudo analisou mais de 100 mil casos de bebés com mães que em algum momento do período de gestação tomaram penicilina ou macrolideos, entre 1990 e 2016, no Reino Unido. O grupo de investigadores analisou o histórico clínico destas crianças durante os seus primeiros anos de vida na tentativa de encontrar patologias ou distúrbios neurológicos relacionados com os dois tipos de antibióticos.
Com base nessa análise, o estudo concluiu que o risco de malformações congénitas no feto aumenta em cerca de 28% nas grávidas que tomaram macrolídeos durante os primeiros três meses do período de gestação, comparado com os casos das grávidas que tomaram penicilina – nestes casos, o risco é de 18%. As deficiências associadas a patologias cardíacas são as mais suscetíveis de acontecerem nestes casos.
No entanto, o estudo não encontrou nenhuma lógica causal estabelecida entre a prescrição de macrolídeos e distúrbios no desenvolvimento neurológico dos bebés. O mesmo acontece nos casos em que as mães tomaram este tipo de antibióticos antes da gravidez.
Estas descobertas são um alerta para as grávidas e para os médicos, que devem tentar encontrar alternativas mais seguras para cada tipo de infeção. Esta foi a conclusão a que chegou Ruth Gilbert, da University College de Londres: “As nossas descobertas sugerem que seria melhor evitar os macrolídeos durante a gravidez se outros antibióticos alternativos puderem ser prescritos”. No entanto, sublinha: “As mulheres não devem parar de tomar antibióticos quando é realmente necessário, porque as infeções não tratadas representam um grande risco para o bebé.”
Os especialistas que trabalharam no estudo pediram às mulheres grávidas para não ficarem alarmadas com estes números. O mesmo referiu Stephen Evans, professor de farmacoepidemiologia na Escola De Higiene e Medicina Tropical de Londres, Reino Unido: “A mensagem do artigo deve ser dirigida a quem prescreve e não aos pacientes.” E acrescentou: “Já todos sabemos que a prescrição de medicamentos, incluindo antibióticos, deve ser feita com grande cuidado. Não é simples reduzir o seu uso, mas ter cuidado na escolha durante a gravidez é sensato”.
Sarah Strock, professora no Instituto Usher da Universidade de Endinburgo, no Reino Unido, concorda, mas defende que as mulheres alérgicas à penicilina e para as quais os macrodíleos são a única solução não devem ficar assustadas porque os riscos são muito reduzidos. “O risco mais alto foi observado nas prescrições precoces da gravidez, em que o risco de desenvolver distúrbios cardíacos devido ao uso de macrolídeos era inferior a 0,5%”, referiu.